Dez notas sobre as ruínas do Antropoceno

uma busca por um solo comum entre diversos campos do saber

Autores

  • Salvador Schavelzon Universidade de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina, São Paulo, São Paulo, Brasil
  • Marina Guzzo Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Saúde, Clínica e Instituições, Santos, São Paulo, Brasil
  • Teresa Maria Siewerdt Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, Departamento de Artes Visuais, São Paulo, São Paulo, Brasil
  • Emanuel Fonseca Lima Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação em Teoria Geral e Filosofia do Direito, São Paulo, São Paulo, Brasil
  • Fábio Tremonte Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, Departamento de Artes Visuais, São Paulo, São Paulo, Brasil
  • Priscila Luz Gontijo Soares Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, São Paulo, São Paulo, Brasil
  • Ana Jaimile da Cunha Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins, Palmas, Tocantins, Brasil
  • Igor Wassiljew Moia Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Programa de pós-graduação em Ciências Biológicas - Botânica, São Paulo, São Paulo, Brasil
  • Lídia Ferreira de Sousa
  • Anny Pagan

DOI:

https://doi.org/10.23925/1984-3585.2021i24p74-100

Palavras-chave:

Antropoceno, Mundos Interespecíficos, Cosmopolítica, Virada Ontológica

Resumo

A partir do diálogo entre pesquisas e campos disciplinares diversos, esse texto apresenta dez notas, em forma de conversa, para pensar coletivamente e através de distintas formas de escrita, alternativas de mundos interespecíficos, ferales, não humanos, de plasticidade e resistência no Antropoceno reunindo perspectivas que discutem algumas teorias antropológicas e filosóficas contemporâneas com foco na cosmopolítica de mundos vegetais e animais. Modulações a respeito do conceito de Antropoceno, tais como Capitaloceno, Plantationceno ou Chthuluceno, permitem pensar quais são as implicações do humano ser o centro do Universo e como isso incide diretamente na vida do planeta. Como dar conta simultaneamente do problema da centralidade do humano, mostrando uma realidade pós humanista e interespecífica, e do problema do potencial destrutivo do ser humano, e o impacto do mesmo na vida na terra com consequências que não podem ser relevadas? Considerou-se o contexto atual, de uma crescente perda da biodiversidade, erosão dos solos e precarização das formas de vida e de imaginação. Diante disso, levantaram-se questões como o campo da antropologia, do direito, do turismo, da arte e da literatura de forma a responder algumas urgências do nosso tempo pandêmico e virtual.

Biografia do Autor

Salvador Schavelzon, Universidade de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina, São Paulo, São Paulo, Brasil

Antropólogo, professor e pesquisador na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), professor no Programa de Pós Graduação em Integração Latino-Americana (PROLAM-USP). Em 2020 ministrou a disciplina “Teoria antropológicas contemporâneas: cosmopolíticas de mundos vegetais e animais” no Programa de Pós Graduação em Estudos Culturais (EACH-USP).

Marina Guzzo, Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Saúde, Clínica e Instituições, Santos, São Paulo, Brasil

Artista e pesquisadora das artes do corpo, tem pós-doutorado pelo Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP e mestrado e doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP. É Professora Adjunta da Unifesp no Campus Baixada Santista.

Teresa Maria Siewerdt, Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, Departamento de Artes Visuais, São Paulo, São Paulo, Brasil

Artista e pesquisadora. Bacharel em artes visuais pela Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC). Mestre em poéticas visuais pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Doutoranda em poéticas visuais pela Universidade de São Paulo, no departamento de Artes visuais, onde investiga práticas insurgentes e ressurgentes ligadas à (T)terra.

Emanuel Fonseca Lima, Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação em Teoria Geral e Filosofia do Direito, São Paulo, São Paulo, Brasil

Especialista em Direito Ambiental pela PUC-SP. Mestre e Doutorando em Teoria Geral e Filosofia do Direito pela Universidade de São Paulo. Procurador do Estado de São Paulo. Integrante do Coletivo Ocareté.

Fábio Tremonte, Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, Departamento de Artes Visuais, São Paulo, São Paulo, Brasil

Artista e curador. Mestre e doutorando em artes visuais na Escola de Comunicações e Artes de Universidade de São Paulo. Mantém projetos de duração imprevistas e processos de criação de zonas comunitárias difusas. Em 2020, foi curador pedagógico da residência artística de Valongo Festival da Imagem (Santos, SP). Em 2021, é curador do programa Pedagogías infinitas de Aeromoto (Cidade do México).

Priscila Luz Gontijo Soares, Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, São Paulo, São Paulo, Brasil

Escritora, dramaturga e pesquisadora. Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC/SP, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa/FFLCH-USP. Em 2016, publicou Peixe cego, romance finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2017. E em 2020 publicou O som dos anéis de Saturno, ambos pela editora 7Letras.

Ana Jaimile da Cunha, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins, Palmas, Tocantins, Brasil

Bacharel e Mestre em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Formação Técnica em Ensino e Aprendizagem Colaborativa pela Universidade de TAMK, Finlândia (2014). Especialista em Gestão Turística pela Universidad Pompeu Fabra em conjunto com a Escuela de Alta Dirección y Administración (EADA), Barcelona, Espanha (2006). Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO). Desenvolve pesquisa sobre arranjos produtivos locais do turismo, economia criativa, negócios sociais e etnoturismo.

Igor Wassiljew Moia, Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Programa de pós-graduação em Ciências Biológicas - Botânica, São Paulo, São Paulo, Brasil

Biólogo e pesquisador. Estudante de mestrado no programa de pós-graduação em Ciências Biológicas - Botânica, pelo Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo. Atua na área de botânica, realiza trabalhos de florística e taxonomia da família Cactaceae e co-produção do conhecimento nas ciências ambientais, com enfoque em trabalhos realizados junto a povos originários e tradicionais.

Lídia Ferreira de Sousa

Professora de matemática da rede municipal de ensino de Barueri. Também possui formação em Comunicação Social - Jornalismo.

Anny Pagan

Artista, pesquisadora e estudante da Universidade Federal de São Paulo.

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Publicado

2022-03-09