Sobre o fal(h)ar
cultura digital, precariedade e Antropoceno
DOI:
https://doi.org/10.23925/1984-3585.2025i31p94-107Palavras-chave:
Antropoceno, cultura digital, comunicação, precariedade, falharResumo
O artigo explora a precariedade da comunicação e a ruína tecnológica na era do Antropoceno. A relação entre as materialidades da cultura digital e a crise ambiental global revela a complexidade e interconectividade do mundo contemporâneo através de erros, falhas e perturbações. Trata-se de um problema de comunicação, de não conseguir falar bem respeitando condições de felicidade de modos de existência específicos. Falhamos nesse falar, traficando verdades de um modo a outro, agravando a crise, limitando o reconhecimento de possibilidades de construção de mundos. Argumenta-se que a crise do Antropoceno é consequência do progresso técnico e da visão antropocêntrica que posiciona o ser humano como o único agente legítimo de transformação. Desde a Revolução Industrial, a invisibilidade dos dispositivos técnicos, pela sua funcionalidade, tem neutralizado as anomalias, contribuindo para a crise climática. Diante disso, é crucial trazer os problemas à tona, reconhecer a pluralidade de seres e os entrelaçamentos em que estamos imersos, sem recorrer a essencialismos ou narrativas simplificadoras. Falhar em falar bem é, portanto, sintoma de uma comunicação incapaz de reconhecer a pluralidade de seres e seus modos de existência. Na condição sempre precária da comunicação, falar bem pode ser uma saída para evitar a ruína planetária no Antropoceno.
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