A INSTÂNCIA AUTORAL E OS MODOS DE ENUNCIAÇÃO LITERÁRIA NA LITERATURA FANTÁSTICA BRASILEIRA
DOI:
https://doi.org/10.23925/2316-3267.2024v13i3p65-89Palavras-chave:
instância autoral; análise do discurso; literatura fantástica; poética da incerteza; enunciação.Resumo
Este artigo investiga a instância autoral e os modos de enunciação literária que legitimam o enunciador como autor referencial nos discursos literários do conto "A última árvore", de Nelson de Oliveira / Luiz Brás. A análise da instância de autor na literatura fantástica é essencial para compreender as complexas relações entre texto, autor e leitor. Partindo do desafio à centralidade do autor, propomos que o sentido de um texto emerge na interação entre o coenunciador e os enunciados literários, descentrando a figura do autor empírico e enfatizando a construção de uma instância autoral baseada na pluralidade de significados na prática enunciativo-discursiva. Na literatura fantástica, onde a ruptura com a realidade e a criação de mundos alternativos são fundamentais, essas abordagens permitem uma análise que evidencia a figura do autor como aquele que maneja a poética da incerteza. Utilizamos um aparato teórico-metodológico que integra duas perspectivas complementares. Dominique Maingueneau concebe o autor como uma instância que desempenha uma performance conforme as regras de um estatuto ou função, destacando a presença de um enunciador referencial e a cenografia que moldam a recepção do texto. Em contraste, Roland Barthes propõe que a verdadeira liberdade interpretativa é alcançada quando o autor é "morto", permitindo que o texto seja explorado em sua plenitude polissêmica pelo coenunciador. Essa abordagem sugere que o sentido de um texto não está fixado na intenção autoral, mas emerge na interação dinâmica entre o leitor e a linguagem. A amostra selecionada exemplifica como a literatura fantástica mobiliza formações discursivas que dialogam com questões contemporâneas e emergentes do campo do insólito e da ciência, destacando a competência da instância autoral referencial na prática enunciativo-discursiva.