DO ROMANCE SOCIAL AO PALCO INTERNACIONAL: ESTRATÉGIAS RETÓRICAS NO ENTRECRUZAMENTO DE LITERATURA E POLÍTICA
DOI:
https://doi.org/10.23925/2316-3267.2025v14i3p71-87Resumo
O presente artigo analisa o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva proferido na Assembleia Geral da ONU, ao tomá-lo como corpus privilegiado para compreender como um representante das camadas populares brasileiras se legitima, ou não, no mercado linguístico internacional. A fundamentação teórica apoia-se na Literatura Social Brasileira, com destaque para obras como O Cortiço (Aluísio Azevedo), Os Sertões (Euclides da Cunha), Vidas Secas (Graciliano Ramos) e Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus), que configuram matrizes interpretativas da desigualdade e da formação social do país. Articula-se a isso a Retórica de Perelman (Retóricas) e conceitos deleuzianos de representação e identidade presentes em Diferença e Repetição. As categorias de análise são estabelecidas a partir do conceito de mercado linguístico de Pierre Bourdieu (2022), complementado pelo lugar clássico e lugar romântico de Perelman (2004), além do espaço da diferença deleuziano (1968), que problematiza identidades estabilizadas no cenário diplomático. O objetivo é compreender as estratégias discursivas que permitem a um presidente oriundo da classe trabalhadora constituir ethos de legitimidade na cena internacional. As conclusões apontam que o discurso de Lula opera taticamente entre a Tradição Retórica Clássica e o tensionamento da representação identitária, pois reposiciona o Brasil e questiona hierarquias simbólicas na política mundial.
Referências
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