AUTORIA E NEGRITUDE NO DISCURSO RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA, DE LIMA BARRETO
DOI :
https://doi.org/10.23925/2316-3267.2024v13i3p90-107Mots-clés :
Discurso literário, autoria, negritude, Lima Barreto.Résumé
Escrever e publicar, em 1909, Recordações do escrivão Isaías Caminha não tornou Lima Barreto (1881-1822) um autor. A recepção da obra foi severa e Lima não foi, naquele momento, considerado um escritor de literatura. Neste artigo, por meio do repertório da Análise do discurso de tradição francesa, indicamos que a constituição do regime de autoria está vinculada à recepção de um discurso em determinada conjuntura sócio-histórica e cultural. Assim, a constituição do regime de autoralidade, como aponta Maingueneau (2010), está associada à constituição dos sujeitos de uma época. Isso colocado, o discurso Recordações do escrivão Isaías Caminha, reconhecido como primeira publicação literária de Lima Barreto, não pode ser desassociado das condições raciais brasileiras do final do século XIX e início do século XX, pois, tanto no intrínseco, quanto no extrínseco, do discurso há a malha racistas que edificou a sociedade brasileira, para todos os sujeitos negros brasileiros. Assim, ler o discurso de Lima Barreto, em certa medida, é ler a fina camada interdiscursiva que revestiu o regime autoral da obra e, simultaneamente, ler a condição dramática de existência da juventude negra no Brasil.