OS GÊNEROS DO DISCURSO NAS VISÕES DE ARISTÓTELES E BAKHTIN

Résumé

Este artigo examina a noção de gêneros do discurso a partir de duas perspectivas teóricas distintas e historicamente afastadas: Aristóteles, na tradição da retórica clássica, e Mikhail Bakhtin, no âmbito da linguística e da filosofia da linguagem do século XX. Em Aristóteles, os gêneros do discurso constituem uma classificação argumentativa vinculada às finalidades persuasivas da retórica e organizam-se em três espécies — deliberativo, forense e demonstrativo — cada qual orientado por propósitos pragmáticos específicos. Em Bakhtin, ao contrário, o gênero do discurso é concebido como um tipo relativamente estável de enunciado, determinado por três elementos indissociáveis: conteúdo temático, estilo e construção composicional, resultantes da atividade comunicativa em contextos histórico-ideológicos concretos. A partir da análise comparativa de trechos discursivos reais, o estudo evidencia que o termo “gênero do discurso” assume sentidos distintos nas tradições aristotélica e bakhtiniana, o que exige cautela em usos interdisciplinares. Conclui-se que, enquanto Aristóteles busca tipificar estratégias argumentativas, Bakhtin prioriza a compreensão do enunciado como unidade dialógica da interação verbal.