Qualis: B2 |
Área do conhecimento: Sociologia |
Núm. 27 (2015): Verve
verve, em seu fazer, pesquisar e registrar, anarquia e abolicionismo penal libertário, mira passado e presente, o agora e as experiências registradas nas lutas contra governos e dominações. faz da anarquia uma memória viva que pulsa em cada um que ousa se insurgir e se ocupa em deixar registro dessas batalhas. saúda as existências e os momentos que fizeram da vida a luta pela liberdade, deixando a memória impressa e viva para os que seguem nessa mesma batalha.
os anarquistas atravessam quase dois séculos como incessantes interpeladores do instituído sem buscar novas e renovadas instituições ou constituições. são a malta negra, como mostra christian ferrer, que combate pacientemente, de diversas formas, os poderes e os mecanismos técnicos, a despeito dos saberes que querem plasmar sua existência em um respeitoso passado. caminham como nômades pelo planeta.
em meio a essas lutas os anarquistas se tornaram instauradores. jamais submeteram suas lutas à vitória e tampouco se dobraram diante do endurecimento das perseguições, prisões e penas. o que hoje se nomeia como leis ou direitos trabalhistas foi antes uma luta direta levada por corajosos militantes que tombaram de pé ante ao tribunal, como relata hugo fontana a respeito dos acontecimentos de haymarket, irrupção do primeiro de maio anarquista.
o abolicionismo penal libertário não teme o avanço dos conservadores e não se deixa pegar pelo jogo dos progressistas. o nu-sol, em página única, afirma que a luta contra a prisão de jovens segue sendo da maior importância para deter o fascismo da sociedade de controle. assim como gustavo ramus, ao relatar sua experiência, mostra a gestão da infelicidade diante dos ubuesco de penas alternativas e das vidas que se oferecem ao governo da busca de felicidade. a expansão das polícias é analisada em suas modulações por mayara de martini cabeleira que toma como alvo o fracasso mais bem sucedido da atual política de segurança: os programa de pacificação das favelas cariocas nomeado de upps.
a malta negra segue insuportável, como foram os canibais para colonizadores e civilizados. segue em confronto
direto com polícias e agentes da ordem físicos e eletrônicos. eliane k. de carvalho traça uma instigante aproximação entre a tática black bloc e o combate aos canibais. a ação direta entre os anarquistas não se resume a ação violenta, como querem fazer crer os agentes da ordem. a ação direta pode ser experimentada em práticas corporais, como mostra joão da mata ao expor a relação da somaterapia com a capoeira angola: uma arte da luta hoje.
verve lembra o saudoso amigo-editor, robson achiamé, um anarquista dedicado aos prazeres da vida e ao registro da produção anárquica no presente. simplesmente anarquista ele aparece em página única. a revista é atravessada por capas de suas publicações que se ocuparam dos anarquismos produzidos no presente e no passado.
a aula-teatro registra a atual versão de terr@ 2, por edson passetti & acácio augusto, apresentada em maio para estudantes e interessados. impressa aqui, a ação direta do nu-sol afirma uma prática anti-representação.
verve registra a existência de quase um século de judith malina inventora do the living theatre junto ao seu companheiro julian beck, a experiência mais radical em teatro a partir da segunda metade do século xx. teatro anarquista. bella, ciao!
nas resenhas, a anarquia se desdobra atravessando o planeta, do méxico ao japão, por lily litvak e luíza uehara, reiterando o nomadismo anarquista. os anarquistas estão vivos!
realizam lutas na contingência de suas forças e para além de soluções ou programas. desapegados do tempo, seguem produzindo experimentações encarniçadas e uma constelação de práticas refratárias à ordem e ao poder instituído em favor de uma vida vivida.
verve é o registro e a realização dessa força estranha e anárquica.
saúde!