A percepção em três registros: Russel, Peirce e Caeiro
Palavras-chave:
Percepção. Signo. Semiótica. Fenomenologia.Resumo
Este artigo foi escrito no âmbito de disciplina de pós-graduação, ministrada pelo professor Segolin, sobre Fernando Pessoa, na PUC-SP, e visa apresentar três pontos de vista com relação à “percepção”. Neste trabalho, partimos da monografia de Blikstein sobre o filme “O Enigma de Kaspar Hauser” para contrastar três visões distintas sobre o fenômeno da percepção. A percepção, embora classificada como “coisa extralinguística”, está conectada umbilicalmente com o próprio fenômeno linguístico, e o antecede: por detrás do signo, reside esse fenômeno cognitivo chamado percepção. Aqui discutiremos as diferenças das teorias de percepção em Bertand Russell, Charles Sanders Peirce e em Alberto Caeiro, heterônimo do poeta Fernando Pessoa. Na obra de Russell, a percepção possui uma posição de destaque, servindo de alicerce para sua teoria do conhecimento. No entanto, ao longo de sua obra, Russell modificou o tratamento que dava à percepção, não chegando a desenvolver uma teoria acabada. Já Peirce, embora tampouco tenha logrado conceber uma teoria sistemática da percepção, deixa claro que sua fenomenologia está calcada nela. Afirma explicitamente que a Primeiridade, Secundidade e, por conseguinte, toda forma lógica de pensamento, são dadas na percepção. Por sua vez, Alberto Caeiro alça a percepção a um status ainda mais elevado. Para ele, não só o conhecimento é mediado pela percepção como a própria busca por esse conhecimento é irrelevante e supérflua. Para ele, nada mais importa além da relação sensorial de sua consciência com os objetos externos.
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