A palavra cão não morde
DOI:
https://doi.org/10.23925/1809-8428.2020v17i2p314-337Palavras-chave:
Marat. Desnaturar Palavras. Política. Literatura. Filosofia. Revolução FrancesaResumo
Se o tempo presente se mostra fragmentado e sob fortes indícios de retorno à barbárie, - identificado por práticas e discursos políticos autoritários, em tendência de se tornarem hegemônicos -, o ensaio procura interpelar o estatuto contraditório da palavra no campo da política, através de uma sondagem lúdica. A exploração da matéria gravita em torno de uma página de Marat, de 1774, republicada em 1793, momento de consolidação dos ideais da Revolução Francesa, sob o Terror. A hipótese guia considera que as palavras não são as coisas, mas as representações “verdadeiras” das coisas e dos conceitos, nos atos de suas concepções primordiais. Se em princípio, as palavras podem ser consideradas “verdadeiras”, os atores políticos as desnaturam pela manipulação dos sentidos próprios e originais, findando por gerar ilusões para além de seus significados mais arraigados. Assim, o ensaio ao expor, transversal e criticamente, recortes de textos de Literatura e de Filosofia, conjuga citações e referências através de aforismos, dispostos em mosaico, cujo fundo dá a ver a possibilidade/impossibilidade de se confiar, de modo cabal, nas palavras circulantes, - ao menos naquelas utilizadas campo da ação política.