Processos de (in)visibilização e construção de normalidades
relações de poder e constituição de pessoas com deficiência em livros didáticos de matemática
DOI:
https://doi.org/10.23925/1983-3156.2025v27i5p256-284Palavras-chave:
Educação matemática, Inclusão, Mecanismos de controle do discursoResumo
Conforme descrito por Michel Foucault, as relações de poder se dão de modo econômico, buscando o melhor efeito por meio do menor esforço, aquele que encontra menor resistência. Este estudo parte dessas inquietações ao analisar e descrever práticas discursivas que emergem do livro didático de Matemática, instituindo uma forma específica de ser/conceber a pessoa com deficiência. O referencial teórico-metodológico ancora-se nos mecanismos de controle do discurso e nas relações entre saber e poder, assumindo a análise do discurso como ferramenta para interrogar os regimes de verdade que sustentam as configurações da deficiência no contexto educacional. Tomamos como material empírico a coleção A Conquista da Matemática, destinada aos Anos Finais do Ensino Fundamental. Os indícios que emergem do corpus analisado revelam uma construção imagética recorrente e restrita: a deficiência é figurada quase exclusivamente por pessoas cadeirantes e deficientes visuais (cego/baixa visão). Outras corporalidades são silenciadas. Mais ainda: a ausência de vínculo entre essas imagens e as atividades pedagógicas revela uma inclusão que não chega a acontecer, uma presença marcada mais pela expectativa de cumprir um requisito do que por um engajamento com a diferença, evidenciando uma pseudo-integração das diferenças ao contexto pedagógico e social, operando mais como um gesto simbólico do que como uma prática efetivamente inclusiva. O que está em jogo, então, é menos o que se mostra e mais aquilo que se permite ver.
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