A escrita (do) impossível em A hora da Estrela
DOI:
https://doi.org/10.23925/1983-4373.2019i23p24-41Palavras-chave:
Clarice Lispector, A hora da Estrela, Excesso, Carência, Escrita impossívelResumo
Esse artigo propõe-se a discutir os embates narrativos entre o narrador Rodrigo S.M e a personagem Macabéa, no romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, à luz de uma fundante impossibilidade que rondaria a obra: como dar forma a um ser impossível de ser apreendido pelas palavras? O acesso à Macabéa se mostra opaco e problemático, do mesmo modo que o próprio narrador se desconhece no processo de desvendar este outro esquivo. A partir dessa premissa, pretende-se observar o jogo em que se movem narrador, personagem, escritora e leitor. A "delicada e vaga existência de Macabéa", nas palavras do narrador, acaba por desafiar uma escrita dividida entre o imperativo da expressão verbal e a carência da linguagem. O que resta desse conflito entre o objeto provocativo da escritura e a dificuldade em dizê-lo é, paradoxalmente, um excesso de indagações, hesitações e peripécias narrativas. A presente leitura convoca noções psicanalíticas para compreender algumas faces deste vasto campo de sentidos.