Biopolítica do saudável e a controversa tentativa de revisão do Guia Alimentar para a População Brasileira
Palavras-chave:
consumo alimentar, biopolítica, cartografia das controvérsias, teoria ator-redeResumo
O que se come e o que se bebe é algo bastante debatido na atualidade. De um lado, temos os entusiastas da alimentação natural, que evitam comida processada e abominam os ultraprocessados. De outro, há os defensores dos alimentos processados e ultraprocessados como parte de uma dieta saudável e nutritiva. O objetivo deste artigo é examinar os rastros e captar as mediações em busca das associações criadas pelos e entre os actantes na controvérsia ocorrida em setembro de 2020 gerada por uma nota técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) com a intenção do referido órgão em revisar o Guia Alimentar para a População Brasileira. Analisamos também aspectos biopolíticos que emergem nas disputas em torno da alimentação saudável. São mobilizados autores da comunicação, consumo, alimentação, biopolítica e teoria ator-rede (TAR), tendo como metodologia a cartografia das controvérsias (CC), o que permite analisar os actantes, as mediações e os embates entre essas duas visões de mundo em colisão.Referências
BRUNO, F. Rastros digitais sob a perspectiva da teoria ator-rede. Revista Famecos, v. 19, n. 3, 2012, p. 681-704.
DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
DELEUZE, G. Conversações (1972-1990). São Paulo: Editora 34, 1992.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
FREITAS, A.; TRINDADE, E. A economia e o consumo midiatizado das marcas de alimentos e bebidas globais: algumas considerações. Revista Communicare, São Paulo: Faculdade Cásper Líbero. v. 16. n. 2, 2016, p. 210-228.
JAMESON, F. Pós-modernidade e sociedade de consumo. Novos Estudos CEBRAP, n. 12, 1985, p. 16-26.
KELLY, B. et al. Global benchmarking of children's exposure to television advertising of unhealthy foods and beverages across 22 countries. Obesity Reviews, v. 20, 2019, p. 116-128.
KUMAR, K. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à teoria ator-rede. Salvador: Edufba; São Paulo: Edusc, 2012.
LEMOS, A. A comunicação das coisas: teoria ator-rede e cibercultura. São Paulo: Annablume, 2013.
MARTINELLI, F.; SILVA, J. G. X. “Comida como afeto: identidades, emoções e alteridade na produção e no consumo alimentar”. In.: SIQUEIRA, D.; FORTUNA, D. (Orgs.). Narrativas do Eu: gênero, emoções e produção de sentidos. Porto Alegre: Sulina, 2019, p. 246-264.
MONTEIRO, C. A. et al. A new classification of foods based on the extent and purpose of their processing. Cadernos de saúde pública, v. 26, n. 11, 2010, p. 2039-2049.
ORTIZ, R. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 2007.
PELBART, P. (2011). Vida capital. São Paulo, Iluminuras, 2011.
PERES-NETO, L.; HADLER, R. Ética e comunicação das escolhas alimentares: uma análise da tribo pós-moderna do Slow Food. Razón y Palabra, v. 20, n. 3-94, 2016, p. 248-263.
PRADO, J. L. A. Convocações biopolíticas dos dispositivos comunicacionais. São Paulo: EDUC-Fapesp, 2013.
PRIMO, A. O que há de sociais nas mídias sociais? Reflexões a partir da Teoria Ator-Rede. Contemporânea Revista de Comunicação e Cultura, v. 10, n. 3, 2012, p. 618-641.
RABINOW, P. Artificialidade e iluminismo: da sociobiologia à biossociabilidade. In: RABINOW, P. Antropologia da Razão. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1999, p. 135-157.
______; ROSE, N. O conceito de biopoder hoje. Revista de Ciências Sociais, v. 11. n. 1, 2006, p. 27-57.
REIS, D. S. M. Guia alimentar para a população brasileira: deficiências no diálogo entre o Estado e a sociedade. In: MATOS, H.; GIL, P. Comunicação, políticas públicas e discursos em conflito. São Paulo: ECA-USP, 2019, p. 77-117.
ROSE, N. Agenciando nossos selfs. In: ROSE, N. Inventando nossos selfs: psicologia, poder e subjetividade. São Paulo: Vozes, 2011, p. 234-273.
SANTAELLA, L.; CARDOSO, T. O desconcertante conceito de mediação técnica em Bruno Latour. Matrizes: Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP, v. 9, n. 1, 2015, p. 167-185.
SANTANA, M. O. et al. Analysing persuasive marketing of ultra-processed foods on Brazilian television. International Journal of Public Health, v. 65, n. 7, 2020, p. 1067-1077.
SIBÍLIA, P. O homem pós-orgânico: a alquimia dos corpos e das almas à luz das tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.
SPERS, E. E.; ZYLBERSZTAJN, D.; MACHADO FILHO, C. A. P. O papel público e privado na percepção do consumidor sobre a segurança dos alimentos. Impulso UNIMEP, v. 15, n. 36, 2004, p. 49-57.
VENTURINI, T. Diving in magma: how to explore controversies with actor-network theory. Public Understanding of Science, v. 19, n. 3, 2010, p. 258-273.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Lucas de Vasconcelos Teixeira, Tânia Márcia Cesar Hoff
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores de artigos publicados mantêm os direitos autorais de seus trabalhos, licenciando-os sob a licença Creative Commons CC-BY, que permite que os artigos sejam reutilizados e distribuídos sem restrição, desde que o trabalho original seja corretamente citado. Os autores concedem para GALÁxIA. Revista Interdisciplinar de Comunicação e Cultura o direito de primeira publicação.