O som atravessado do Sambódromo

conflitos entre camarotes e a avenida dos desfiles

Autores

Palavras-chave:

samba, escolas de samba, estudos de som, conflitos sociais

Resumo

O vazamento sonoro dos camarotes do Sambódromo do Rio de Janeiro para a avenida dos desfiles durante o carnaval de 2022 foi amplamente comentado nos circuitos de samba e na imprensa. Este texto discute os múltiplos atravessamentos gerados pela tensão sonora durante o evento, entendendo que o conflito derivado da disputa musical dramatiza diversas tensões sociais bastante recorrentes nos desfiles do carnaval carioca, relacionados a questões de classe e raça. O carnaval é uma festa popular que negocia desde sempre espaços físicos na cidade, numa tensão que também encarna disputas por espaços simbólicos. O som dos camarotes atravessado com as baterias das escolas de samba pode ser pensado como outra camada de disputas por espaços sonoros, numa complexa engrenagem que reverbera modos de pensar e negociar as hierarquias sociais.

Biografia do Autor

Felipe da Costa Trotta, Universidade Federal Fluminense

Docente do Departamento de Estudos Culturais e Mídia  e do PPG em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), doutor em Comunicação e Cultura (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006) e mestre em Musicologia (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2001). Pesquisador do CNPq desde 2011, dedica-se à interface entre música popular e comunicação.

Rafael dos Santos Moreira, Universidade Federal Fluminense

Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), candidato à dupla titulação pela Universidade de Tübingen, Alemanha, no programa de mestrado interdisciplinar 'Culturas do Sul Global' (M.A CGS UT), graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisa a decolonialidade das escolas de samba do Rio de Janeiro através da compreensão do samba como consciência e articulação afrodiaspóricas.

Referências

ALABARCES, Pablo. Pospopulares: las culturas populares después de la hibridización. Guadalajara, Jalisco: Ed. Universidad de Guadalajara/CALAS, 2020.

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.

ARAÚJO, Samuel. Sambas, sambistas e sociedade. RJ: Ed.UFRJ, 2021.

CABRAL, Sérgio. As escolas de samba: o que, quem, como, onde e porque. RJ: Fontana, 1974.

CAVALCANTI, Maria Laura. Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile. RJ: Funarte, 1994.

CUSIK, Susane. “Music as torture, music as weapon”. Revista TRANS n. 10, 2006.

DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis. RJ: Zahar, 1979.

DAUGHTRY, Martin. Listening to war. Oxford University Press, 2015.

FERREIRA, Felipe. “Escolas de Samba: uma organização possível”. Sistemas & gestão, v. 7, n. 2, p. 164-172, 2012.

GARCÍA CANCLINI, Néstor. Culturas Híbridas - estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução de Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. São Paulo: EDUSP, 1997.

GOMYDE, Pérsio. Da Candelária à Apoteose: quatro séculos de paixão. RJ: Multifoco, 2015.

GUIMARÃES, Francisco (Vagalume). Na roda de samba. RJ: MEC/Funarte, 1978.

HAESBAERT, Rogerio. Viver no limite. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.

HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2007.

HOBSBAWN, Eric. “A invenção das tradições” In: A invenção das tradições (Eric Hobsbawn e Terence Ranger, orgs.). RJ: Paz e Terra, 1997.

LOPES, Nei. Partido-alto: samba de bambas. RJ: Pallas, 2005.

MARTÍN-BARBERO, Jésus. Dos meios às mediações. RJ: Ed.UFRJ, 2001.

MOURA, Roberto M. No princípio era a roda. RJ: Rocco, 2004.

MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Brasil. RJ: Funarte, 1983.

ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. SP: Brasiliense, 2001.

TROTTA, Felipe. Annoying Music in Everyday Life. Londres e Nova York: Bloomsbury, 2020.

TROTTA, Felipe. O samba e suas fronteiras. RJ: Ed.UFRJ, 2011.

TURNER, Victor W. O processo ritual: estrutura e antiestrutura. Petrópolis: Vozes, 1974.

VLADI, Nadja. “O novo som de Salvador: a ocupação política/estética da nova cena musical no Carnaval”. Política Cultural em Revista 13/2, , pp. 193-214, jul-dez/2020.

Downloads

Publicado

2024-06-04

Edição

Seção

Artigos | Articles