Comunidades de pertencimento, desinformação e antagonismo

processos interacionais em grupos antivacina no Telegram no Brasil

Autores

Palavras-chave:

Telegram, vacinas, processos interacionais, Covid-19

Resumo

Neste artigo, analisamos os processos interacionais presentes em grupos antivacina no Telegram no Brasil. Usando descritores associados ao tema da vacina e à contestação vacinal, identificamos sete grupos que abordaram a questão vacinal de janeiro a março de 2021, período que corresponde aos primeiros meses da vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Utilizando o método da Teoria Fundamentada, realizamos uma análise qualitativa das conversas tecidas nos grupos estudados. Os resultados mostram que essas interações estão centradas em três eixos principais que revelam: 1) a formação de um senso de comunidade, envolvendo processos de ajuda mútua, reconhecimento de pares, deliberações sobre o grupo e a rede antivacina, testemunhais e suporte afetivo; 2) o processo de elaboração de uma identidade marcada pela diferença em relação à alteridade; e 3) o gerenciamento de processos de hesitação e dissenso, que podem resultar em rupturas no grupo. A compreensão desses processos, a partir do contexto brasileiro, visa contribuir com o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento da desinformação quanto à saúde e vacinas.

Biografia do Autor

Lídia Raquel Herculano Maia, Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia

Pesquisadora de pós-doutorado no Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Doutora em Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com estágio doutoral na School of Communication da Florida State University (FSU), e mestre em Estudos da Mídia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Bolsista do Programa de Pós-Doutorado Júnior Inova Fiocruz.

Luisa Massarani, Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia

Doutora na Área de Gestão, Educação e Difusão em Biociências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz (COC/Fiocruz). Bolsista produtividade 1B do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e “Cientista do Nosso Estado” da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Marcelo Alves dos Santos Júnior, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Doutor e mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor do Departamento de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO). Coordenador do Laboratório de Pesquisa em Mídia, Tecnologia e Dados. Pesquisador associado do Laboratório de Mídia, Democracia e Instituições Políticas (Lamide/UFF) e do Grupo de Pesquisa em Política, Opinião Pública e Comunicação (Gruppocom/UFC). Autor do livro #vaipracuba - A gênese das redes de direita no Facebook.

Thaiane Oliveira, Universidade Federal Fluminense

Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Disputas e Soberanias Informacionais (INCT-DSI) do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC). Membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2. Bolsista Jovem Cientista do Nosso Estado (Faperj).

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Publicado

2024-06-21

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Seção

Artigos | Articles