Gênero, datacolonialismo e violência nas infâncias

tudo o que a Netflix sabe sobre minha filha

Autores

Palavras-chave:

gênero, audiovisual, ser-menina

Resumo

Este artigo analisa a newsletter Kids Recap Email, enviada pela Netflix a adultos responsáveis por perfis infantis no serviço de streaming desde 2021. Os dados produzidos sobre hábitos de consumo de minha filha são trabalhados quantitativamente e qualitativamente, de uma perspectiva feminista e decolonial, que articula gênero, mídia e infância. Com base na análise do material, percebo os modos pelos quais a Netflix produz uma feminilidade algorítmica hegemônica e estereotipada, fundada em regimes de visibilidade relacionados à masculinidade que escondem possibilidades do ser-menina; opera um datacolonialismo no qual dados são extraídos e utilizados para gerar riqueza à companhia, por meio da planificação de identidades e apagamento das diferenças; e comete violências midiáticas e tecnológicas contra as infâncias.

Biografia do Autor

Karina Gomes Barbosa, Universidade Federal de Ouro Preto

Professora do curso de Jornalismo e pesquisadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Mariana (MG). Doutora e mestra
em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB).

Referências

ARNOLD, Sarah. Netflix and the Myth of Choice/Participation/Autonomy. In: MCDONALD, Kevin; SMITH-ROWSEY, Daniel (orgs). The Netflix effect: technology and entertainment in the 21st century. Nova York: Bloomsbury Academic, 2016.

BEIGUELMAN, Giselle. Políticas da imagem: vigilância e resistência na dadosfera. São Paulo: Ubu, 2021.

BERLANT, Lauren. The female complaint: the infinite business of sentimentality in American culture. Durham e Londres: Duke University Press, 2008.

BUCKINGHAM, David. Crescer na era das mídias eletrônicas. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

BUCKINGHAM, David. Repensando a Criança-consumidora: novas práticas, novos paradigmas. Comunicação Mídia e Consumo, [s. l.], v. 9, n. 25, p. 43-72, 2012.

CASTELLANO, Mayka; MEIMARIDIS, Melina. Netflix, discursos de distinção e os novos modelos de produção televisiva. Contemporânea, Salvador, v. 14, n. 2, p. 193-209, ago. 2016.

CGI. TIC Kids Online Brasil: pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2022. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20221121120124/tic_kids_online_2021_livro_eletronico.pdf. Acesso em: 20 abr. 2024.

COULDRY, Nick; MEJIAS, Ulises. A. The costs of connection: how data is colonizing human life and appropriating it for capitalism. Stanford: Stanford University Press, 2019.

GENRO, Tarso; ABRAMOVAY, Pedro. É hora de rever o Marco Civil da Internet. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 mar. 2023. p. 3-3.

GOMES BARBOSA, Karina. Leslie e Ofelia, meninas que ousam sair do quarto: espaço, feminilidade e corpo em Ponte para Terabítia e O labirinto do fauno. Mídia e Cotidiano, v. 14, n. 1, p. 133-156, 19 fev. 2020.

GOMES BARBOSA, Karina. Ser-menina e a imagem de Greta Thunberg na capa da revista Time. Revista Estudos Feministas, [s. l.], v. 30, n. 2, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/76367. Acesso em: 23 set. 2024.

HARVEY, Sylvia. Broadcasting in the Age of Netflix: When the Market is Master. In: WASKO, J.; MEEHAN, E. R. (orgs.). A Companion to Television. 2. ed. Hoboken: Wiley-Blackwell, 2020. p. 107-128.

HENRIQUES, Isabella Vieira Machado; SAMPAIO, Inês Vitorino. Discriminação algorítmica e inclusão em sistemas de inteligência artificial – uma reflexão sob a ótica dos direitos da criança no ambiente digital. Direito Público, [s.I.], v. 18, n. 100, 2021.

KEHL, Maria Rita. Deslocamentos do feminino. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2016.

KNORR, Caroline. How to build character strengths and life skills with quality media. CommonSense Media, 13 jul. 2021. Disponível em: https://www.kidsburgh.org/how-to--build-character-strengths-and-life-skills-with-quality-media/. Acesso em: 20 abr. 2024.

LAURETIS, Teresa de. Technologies of gender: essays on theory, film, and fiction. Bloomington e Indianápolis: Indiana University Press, 1987.

MULLIN, Amy. Children, vulnerability and emotional harm. In: MACKENZIE, Catriona; ROGERS, Wendy; DODDS, Susan (orgs.). Vulnerability: new essays in ethics and feminist philosophy. Nova York: Oxford University Press, 2014. p. 266-287.

NETFLIX. As histórias mexem com a gente. Elas despertam emoções, trazem novas perspectivas e aproximam as pessoas. 2023. Disponível em: https://about.netflix.com/pt_br. Acesso em: 10 maio 2024.

NIEVA, Jennifer. Chegaram dois novos recursos para as crianças passarem mais tempo com a família. Netflix, 14 jul. 2021. Disponível em: https://about.netflix.com/pt_br/news/family-time-upgrade-new-kid-friendly-features. Acesso em: 10 maio 2024.

PATEL, Neil. How Netflix Uses Analytics To Select Movies, Create Content, and Make Multimillion Dollar Decisions. Neil Patel Digital, [s.d.]. Disponível em: https://neilpatel.com/blog/how-netflix-uses-analytics/. Acesso em: 20 abr. 2024.

PEREA, Katia. Girls cartoon second wave: transforming the genre. Animation: an interdisciplinary journal. v. 10, n. 3, p. 189-204, 2015.

POELL, Thomas; NIEBORG, David; DUFFY, Brooke Erin. Platforms and cultural production. Cambridge: Polity Press, 2022.

RAVACHE, Guilherme. Brasil é segundo do mundo em streaming; Prime cresce e Disney+ dispara. Splash UOL, 12 ago. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/splash/colunas/ guilherme-ravache/2021/08/12/brasil-e-segundo-do-mundo-em-streaming-e-crescimento-do-disney-surpreende.htm. Acesso em: 20. abr. 2024.

RICAURTE, Paola. Data Epistemologies, Coloniality of Power, and Resistance. Television & New Media, v. 20, n. 4, p. 1-16, 2019.

RICHERI, Giuseppe. The Audiovisual Industry and the Structural Factors of the Television Crisis. In: WASKO, J.; MEEHAN, E. R. (orgs.). A Companion to Television. 2. ed. Hoboken: Wiley Blackwell, 2020. p. 129-144.

SAFFIOTI, Helleieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/ Expressão Popular, 2015.

SEGATO, Rita. Contra-pedagogías de la crueldad. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2018.

SPANGLER, Todd. Netflix Launches Top 10 Kids’ Titles Rankings, Twice-Monthly Newsletter for Parents. Variety, 14 jul. 2021. Disponível em: https://variety.com/2021/digital/news/netflix-top-10-kids-rankings-newsletter-1235018865/. Acesso em: 10 maio 2024.

SYME, Rachel. How much Netflix can the world absorb? The New Yorker, 16 jan. 2023. Disponível em: https://www.newyorker.com/magazine/2023/01/16/how-much-more--netflix-can-the-world-absorb-bela-bajaria. Acesso em: 10 maio 2024.

UNICEF. Convenção sobre os Direitos da Criança. 20 de novembro de 1989. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-crianca. Acesso em: 10 maio 2024.

Downloads

Publicado

2024-12-28

Edição

Seção

Artigos | Articles