Dissensualidades e ruinações nos modos de habitar/ocupar espaços da cidade
Palabras clave:
enquadramentos identitários, lógica imunitária, estética da comunicação, consensos e dissensos, ruinaçãoResumen
Parte-se do pressuposto de articulação entre estética e política, na esteira de autores que concebem a política como uma partilha do sensível. Essa partilha baseia-se em consensualidades e dissensualidades; a primeira pela categorização tradicional de lugares, saberes e competências no seio da sociedade, a segunda pela desestabilização dessas posições pré-estabelecidas e justificadoras de valores estereotipados e condutas autoritárias. Na contramão dessas posturas, o dissensualismo expõe danos sob a forma de ruinações, concebidas como destroços arrastados de uma estrutura colonial em contínuas e variantes manifestações. A sistematização e compreensão desses processos constituem o objetivo de nossas pesquisas, aqui recortadas pela abordagem de duas condições: a de moradores de rua sob viadutos na cidade de São Paulo, tal como midiatizados por expressões do fotojornalismo, e a da aglomeração de usuários de drogas nas regiões que configuram a chamada Cracolândia da região central de São Paulo. Sobre o primeiro conjunto de imagens destaca-se o olhar sensível de Eduardo Anizelli e, no segundo, as perspectivas críticas de Danilo Verpa e Daniel Arroyo. Abordados como experiências de espacialidade manifestadas em topografia estética, os empíricos delineiam uma percepção igualitária do outro como ser humano afetado socialmente em suas formas de vida.
Citas
ANZINELL, E. Favela surge sob viaduto no Tatuapé após retirada de pedras. Folha de S. Paulo, 28 mai. 2021. Disponível em: https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1701023845575450-favela-surge-sob-viaduto-no-tatuape-apos-retirada-de-pedras. Acesso em 14 out. 2022.
ARROYO, D. Galeria: Vestígios, uma face da Cracolândia que você ainda não viu. A Ponte, 07 mai. 2017. Disponível em: https://ponte.org/galeria-vestigios-uma-face-da-
ATGET, Eugène; REYNAUD, Françoise. Eugène Atget: un choix de photographies extradites de la collection du musée Carnavalet. Paris: Actes Sud, 2010.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 2002.
BARTHES, R. A câmera clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
BRANDÃO, B.; SILVA, W. C. O crack, o corpo e a rua. Ponto Urbe, 20, 2017. Disponível em: http://journals.openedition.org/pontourbe/3480. Acesso em: 10 out. 2022.
BRUBAKER, R.; COOPER, F. Beyond “identity". Theory and society, v. 29, n. 1, p. 1- 47, 2000. Disponível em: https://voidnetwork.gr/wp-content/uploads/2016/09/Beyond-Identity-by-Rogers-Brubaker-and-Frederick-Cooper.pdf. Acesso em: 29 jun. 2022.
BUTLER, J. Quadros de guerra: Quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
CRAMER, K. J. The politics of resentment: Rural consciousness in Wisconsin and the rise of Scott Walker. Chicago: University of Chicago Press, 2016.
DIDI-HUBERMAN, G. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 2010.
______. Pensar debruçado. Lisboa: KKYM, 2015.
______. Imagens apesar de tudo. São Paulo: Editora 34, 2020.
______. A imagem queima. Curitiba: Medusa, 2018.
FONTANILLE, J.; ZILBERBERG, C. Tensão e significação. São Paulo: Discurso/Humanitas, 2001.
FONTANILLE, J. Corpo e sentido. Londrina: EDUEL, 2016.
FONTANILLE, J. Des conflits de formes de vie chez Idrissa Ouedraogo. Des passions du corps comme médiation et transgression. In: MARRONE, G., MAZZUCHELLI, F. (orgs.) Versus – Quaderni di studi semiotici, Forme di vita, forme del corpo / Forms of Life, Forms of the Body: Case Studies, Versus – Quaderni di studi semiotici, n. 128, 1/2019, p. 9-36.
GREIMAS, A. J.; FONTANILLE, J. O belo gesto. In: NASCIMENTO, E. M. F. dos S. & ABRIATA, V. L. R. (orgs.) Formas de vida: rotina e acontecimento. Ribeirão Preto: Coruja, 2014, p.13–33.
HEIDEGGER, M. Bâtir habiter penser. Essais et conférences. Petrópolis: Vozes, 2001, p.170-193.
JACQUES, P. B. Corpografias urbanas. IV ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Faculdade de Comunicação/UFBa. 2008. Disponível em: http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14401-03.pdf. Acesso em: 10 out. 2022.
KANT, I. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
LANDOWSKI, E.; FIORIN, J. L. O gosto da gente, o gosto das coisas. São Paulo: Educ, 1997.
LANDOWSKI, E. O olhar comprometido. Revista Galáxia. São Paulo, v. 1, n. 2, p. 19-56, 2001. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/1241/747. Acesso em: 18 jun. 2022.
LEVINAS, E. Violência do rosto. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
MARQUES, A.C.S. O rosto na imagem, a imagem sem rosto: pobreza e precariedade no âmbito de fotografias jornalísticas sobre o programa Bolsa-Família. REB - Revista de Estudios Brasileños, v. 5, n. 9, 2018. Disponível em: https://reb.universia.net/index. cesso em: 10 out. 2022.
MARTINO, L. M.S.; MARQUES, A.C.S. Enquadramentos biopolíticos do corpo heterotópico: entre o controle prescritivo e a potência disruptiva. In: SILVA, M. R. da et al. (orgs.) Mobilidade, espacialidades e alteridades. Salvador: EDUFBA, 2018, p. 259-280.
MILLEN, J. B. C. Construir, Habitar, Pensat: Uma Proposta de (re)Leitura. Poliética. São Paulo, v. 7, n. 2, p. 119-142, 2019. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/PoliEtica/article/view/46704. Acesso em: 20 jun. 2022.
PARRET, H. A estética da comunicação: além da pragmática. Campinas: Ed. UNICAMP, 1997.
QUINTANA, L. Jacques Rancière and the emancipation of bodies. Philosophy & Social Criticism. 2019;45(2):212-238. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0191453718780529. Acesso em: 30 set. 2022.
______. Política de los cuerpos: Emancipaciones desde y más allá de Jacques Rancière. Barcelona: Herder Editorial, 2020.
______. Rabia: afectos, violencia, inmunidad. Barcelona: Herder Editorial, 2021.
RANCIÈRE, J. A partilha do sensível: Estética e política. São Paulo: Editora 34, 2005.
______. Aisthesis: Scènes du régime esthétique de l´art. Paris : Galilée, 2011.
______. O espectador emancipado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
_________. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Ed. 34, 2018.
RUI, T. Usos da “Luz” e da “cracolândia”: etnografia de práticas espaciais. Saúde e Sociedade, São Paulo , v. 23, n. 1, p. 91-104, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=s- ci_arttext&pid=S0104-12902014000100091&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 30 set. 2022.
SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1996.
SOUZA, F. C. V.; COELHO, T.; MARQUES, A. C. S. A vulnerabilidade e o rosto em imagens de sujeitos empobrecidos: notas para pensar outramente a relação entre estética e política. Parágrafo: Revista Científica de Comunicação Social da Fiam-Faam, v. 5, p. 51-65, 2017. Disponível em: https://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/article/view/562. Acesso em: 30 set. 2022.
STOLER, A. L. “The Rot Remains”: From Ruins to Ruination. In: STOLER, A. L. (orgs.) Imperial debris: on ruins and ruination. Londres: Duke University Press, 2013.
VERPA, D. Policial aponta arma para morador da Cracolândia durante tumulto e confronto envolvendo usuários de drogas, guardas municipais e polícias militares no centro de São Paulo. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/danilo_verpa/47655485082. Acesso em: 29 jun. 2022.
______. Cerco a cracolândia, no centro de SP, recrudesce. Folha de S. Paulo, 28 mai. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/08/cerco-a-cracolandia-no-centro-de-sp-recrudesce.shtml. Acesso em: 29 jun. 2022.
VIEIRA, F.; COELHO, T.; MARQUES, A. C. S. A vulnerabilidade e o rosto em imagens de sujeitos empobrecidos: notas para pensar outramente a relação entre estética e política. Parágrafo: Revista Científica de Comunicação Social da Fiam-Faam, v. 5, p. 51-65, 2017. Disponível em: https://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/article/view/562/501. Acesso em: 14 out. 2022.
VIGLIECCA, H. A diferença entre o ocupar e o habitar. 2017. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/885845/a-diferenca-entre-o-ocupar-e-o-habitar. Acesso em: 08 out. 2022.
ZILBERKAN, M. Repressão policial não acaba com a venda de drogas, diz pesquisador. Folha de S. Paulo, 28 mai. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/05/repressao-policial-nao-acaba-com-o-consumo-e-a-venda-de-drogas-diz-pesquisador.shtml. Acesso em: 29 jun. 2022.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2023 Galáxia. Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
Cedo a la revista Galaxia los derechos de autor para la publicación de mi artículo y consultaré al editor científico de la revista caso quiera republicarlo más adelante en un libro.