Urgência de não ficção: enfrentamentos políticos e literários do jornalismo narrativo

Auteurs-es

Mots-clés :

jornalismo narrativo latino-americano, ficção, testemunho.

Résumé

Neste artigo, investigo a declaração recorrente de escritores e jornalistas latino-americanos sobre a impossibilidade de se fazer ficção em face de contextos opressores. Analiso duas narrativas, Garotas mortas, de Selva Almada, e Os vampiros da realidade só matam pobres, de Eliane Brum, que se apresentam como relatos factuais de intervenção. Minha hipótese é de que se a ficção se apresenta como impossível, ela é também imprescindível, uma vez que esse tipo de narrativa a exige. Para isso, discuto a emergência e as ambiguidades da noção de não ficção e proponho, a partir de Jacques Rancière, o entendimento de ficção como estrutura inteligível erguida por meio do encadeamento de situações e de atores determinados, o que obscurece limites entre literatura e jornalismo. Na análise das obras, evidencio os atravessamentos do documental para o literário e o modo como certa consciência ficcional se manifesta textualmente, mesmo diante da urgência afirmada de não ficção.

Biographie de l'auteur-e

Márcio Serelle, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas)

Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, Interações Midiáticas, da PUC Minas. Pesquisador do CNPq.

Références

ADORNO, T. W. Posição do narrador no romance contemporâneo. In: ADORNO, T. W. Notas de literatura I. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2003. p. 55-63.

AGEE, J; EVANS, W. Elogiemos os homens ilustres. São Paulo: Companhia das

Letras, 2009.

ALMADA, S. Garotas mortas. São Paulo: Todavia, 2018.

______. Dead girls. Edinburgh: Charco Press, 2020.

BOLAÑO, R. 2666. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

BRIZUELA, N. Posfácio. In: WALSH, R. Operação massacre. São Paulo: Companhia das letras, 2010. p. 259-270.

BRUM, E. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago Editoral, 2006.

______. O olho da rua. São Paulo: Globo, 2008.

______. Os vampiros da realidade só matam pobres. In: LLOSA, M. V. et al. Dignidade. São Paulo: Leya, 2012. p. 25-50.

______. Meus desacontecimentos. São Paulo: Leya, 2014.

CAPOTE, T. Prefácio. In: CAPOTE, T. Música para camaleões. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 9-17.

COLLINGWOOD, R. G. The historical imagination. In: COLLINGWOOD, R. G. The ideia of history. London: Oxford at the Clarendon Press, 1946. p. 231-249.

D’AGATA, J. Não ficção. In: Serrote. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2015. n. 25. p. 160-163,

DE MAN, P. Autobiography as de-facement. MLN. Johns Hopkins University Press. v. 94, n. 5, Comparative Literature. Dez. 1979, p. 919-930.

FRUS, P. The politics and poetics of journalistic narrative. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.

GAGNEBIN, J. M. Memória, história, testemunho. In: GAGNEBIN, J. M. Lembrar, escrever, esquecer. 2ª. ed. São Paulo: Ed. 34, 2006. p. 49-57.

ISER, W. Os atos de fingir ou o que é fictício no texto ficcional. In. LIMA, L. C. (org.). Teoria da literatura em suas fontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. v. 2. p. 955-987.

LEJEUNE, P. O pacto autobiográfico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

LUKÁCS, G. Narrar ou descrever? In: LUKÁCS, G. Marxismo e teoria da literatura. 2ª. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. p. 149-185.

PERES, A. C. O que resta dos fatos. Tese (Doutorado em Comunicação). Universidade Federal Fluminense. Niterói, RJ. 2017.

MALCOLM, J. O jornalista e o assassino. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

MOLINA, S; GOLDONI, R. P. Apresentação. In: WALSH, R. Essa mulher e outros contos. São Paulo: Ed. 34, 2010. p. 7-14.

RANCIÈRE, J. A partilha do sensível. 2ª. ed. São Paulo: Editora 34, 2009.

______. O espectador emancipado. Lisboa: Orfeu Negro, 2010.

______. O fio perdido. São Paulo: Martins Fontes, 2017.

RODRÍGUEZ, S. G. Huesos en el desierto. Barcelona: Anagrama, 2002.

SELIGMANN-SILVA, M. O local da diferença. São Paulo: Editora 34, 2005.

VIDAL E SOUSA, C. Repórteres e reportagens no jornalismo brasileiro. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

WALSH, R. Operação massacre. São Paulo: Companhia das letras, 2010.

______. Entrevista a Ricardo Piglia. In: WALSH, Rodolfo. Essa mulher. São Paulo: Editora 34, 2010a. p. 233-247.

WATT, I. A ascensão do romance. São Paulo: Companhias das Letras, 1990.

WHITE, H. The historical text as literary artefact. In: FAY, B; POMPER, P; VANN, R. T. History and theory. Oxford: Blackwell, 1998. p. 15-33.

WOLFE, T. Radical chique e o novo jornalismo. São Paulo: Companhia das letras, 2005.

Téléchargements

Publié-e

2022-05-19

Numéro

Rubrique

Artigos | Articles