Políticas da assombração

o populismo bolsonarista como produção de inquietantes duplos

Autores

Palavras-chave:

populismo, bolsonarismo, redes sociais, Unheimliche, biopolítica

Resumo

O artigo investiga as relações entre a gestão da opinião nas redes sociais e as artimanhas do populismo de ultradireita bolsonarista no Brasil. O ethos genealógico de inspiração nietzschiana direcionou a pesquisa empí- rica em torno dos sentidos da palavra liberdade tais como encontrados nas postagens do Twitter ao longo do dia 7 de Setembro de 2021, data de uma ruidosa manifestação — de cunho golpista — de apoio ao governo. Com base na análise dos dados produzidos pela técnica web scraping, identificamos uma importante tática bolsonarista: a produção de duplos de palavras atreladas tradicionalmente ao léxico democrático. Mais do que esvaziar o sentido de tais palavras, tal estratégia permite assombrá-las, inoculando estranhamento (das Unheimliche) em seus sentidos previamente cristalizados. Como efeito, insinua- -se uma deliberada produção de instabilidade e de insegurança, necessária à manipulação dos afetos tristes como vetor de uma biopolítica da população.

Biografia do Autor

Maria Cristina Franco Ferraz, Universidade Federal Fluminense

Maria Cristina Franco Ferraz é Professora Titular de Teoria da Comunicação da UFF, pesquisadora do CNPq, doutora em Filosofia pela Universidade de Paris I - Sorbonne (1992), com três estágios de pós-doutoramento em Berlim (Instituto Max Planck de História da Ciência, em 2004, e Centro de Pesquisa em Literatura e Cultura, em 2007 e 2010). Coordena na UFF o Doutorado Internacional Erasmus Mundus “Cultural Studies in Literary Interzones”. Publicou os seguintes livros: Nietzsche, o bufão dos deuses (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994/Ediouro: 2009 e Paris: Harmattan, 1998), Platão: as artimanhas do fingimento (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999/Ediouro: 2009 e Lisboa: Nova Vega, 2010), Nove variações sobre temas nietzschianos (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002) e Homo deletabilis - corpo, percepção, esquecimento: do século XIX ao XXI - (Rio de Janeiro: Garamond, 2010).

Ericson Saint Clair, Universidade Federal Fluminense

Ericson Telles Saint Clair. Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF) do Departamento de Artes e Estudos Culturais (RAE)

Referências

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Acesso em 04 out. 2021.

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Publicado

2022-06-22

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