A ironia na arquitetura informativa das redes digitais

o que as fake news têm a nos dizer sobre a verdade?

Auteurs-es

Mots-clés :

fake news, arquiteturas informativas, verdade, ironia

Résumé

O fenômeno das fake news atualiza nossas desconfianças acerca da verdade e recoloca em debate os modos como a tecnologia altera nossa percepção do mundo. No âmbito das arquiteturas digitais, o advento das notícias falsas se converte em manifestação irônica, que questiona a confiabilidade das verdades factuais noticiosas. A principal hipótese é a de que, na ecologia reticular e conectiva contemporânea, caracterizada pelas arquiteturas informativas dos big data, as fake news não apenas se beneficiam do caráter disseminador da tecnologia, mas expressam uma nova forma de agir informativo atópico, que põe em xeque a própria ideia de notícia, supostamente baseada em fatos, e o entendimento que dela faz o jornalismo.

Bibliographies de l'auteur-e

Teresa Neves, Universidade Federal de Juiz de Fora

Possui doutorado em Estudos Literários pela UFJF e pós-doutorado pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Tem mestrado em Comunicação e Cultura pela UFRJ e graduação em Comunicação Social pela UFJF. É professora titular recém-aposentada do Departamento de Fundamentos, Teorias e Contextos da Faculdade de Comunicação da UFJF, com experiência nas áreas de Comunicação, Jornalismo e Literatura, atuando principalmente nos seguintes temas: riso e tragicidade, memória e esquecimento, ficção e narrativa, fake news e verdade. Recentemente, coordenou os projetos de pesquisa e extensão em torno das temáticas Fake News e Cidadania Digital e A longa história da mentira – tudo que vive mente. É pesquisadora do Centro Internacional de Pesquisa Atopos, da ECA-USP, e coordenadora do verbete Ecologia da informação: big data, fake news e mundos possíveis da Plataforma de Cidadania Digital (CIDIG).

 

Massimo Di Felice, Universidade de São Paulo

Possui graduação em Sociologia - Università degli Studi La Sapienza (1993), doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2001) e pós-doutorado em Sociologia pela Universidade Paris Descartes V, Sorbonne (2012). É professor da Universidade de São Paulo, ministrando aulas na graduação e pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP). É professor visitante nas Universidades, Università Roma III (Itália), Université Paul-Valéry Montpellier III (França), Universidade Lusófona (Portugal). Tem experiência na área de Sociologia, Antropologia e Comunicação, nos últimos anos, suas pesquisas vêm aprofundando o estudo das redes complexas em três dimensões. A primeira, o estudo das alterações da condição habitativa, a partir da difusão de interações em redes informativas com o meio ambiente, cujo resultado está contido nas obras “Paisagens pós-urbanas – o fim da experiência urbana e as formas comunicativas do habitar” (2009), “Pós humanismo” (2010) e “Redes Digitais e Sustentabilidade – as relações entre o homem o meio ambiente na época das redes” (2012); a segunda dimensão, o estudo do significado das alterações da ação nas redes digitais, pesquisa internacional sobre o net-ativismo que recebeu o apoio da Fapesp (Auxílio à Pesquisa Regular), e gerou além de diversos artigos internacionais e a publicação dos livros “Do público para as redes (2008)” e “Net-ativismo: as ecologias das interações nas redes digitais, da ação social ao ato conectivo (2017)”; a terceira dimensão, o estudo sobre o comum digital e a superação da ideia humano-técnica e industrial da comunicação. É autor de vários ensaios e artigos publicados em diversas revistas europeias, como La critica Sociologica (Univ. La Sapienza, Roma), Ágalma (Univ. Tor Vegata, Roma) e Sociétés (Ceaq, Univ. Sobornne). No Brasil, coordena a coleção Atopos (Editora Annablume) e a coleção Era Digital (Editora Difusão).

Références

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012.

BOBBIO. Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. (Coleção Pensamento Crítico).

D’ANCONA, Matthew. Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news. Tradução de Carlos Szlak. Barueri (SP): Faro Editorial, 2018.

DECOTELLI DA SILVA, André M. “Nenhum de vocês o conhece bem”: o estranho Sócrates segundo Alcebíades. In: Revista Análogos, Rio de Janeiro, n. 1, 2017. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/31539/31539.PDF. Acesso em: 1o set. 2025.

DI FELICE, Massimo. Paisagens pós-urbanas: o fim da experiência urbana e as formas comunicativas do habitar. São Paulo: Anablume, 2009.

DI FELICE, Massimo. Net-ativismo: da ação social ao ato conectivo. São Paulo: Paulus, 2017a. (Coleção Comunicação).

DI FELICE, Massimo. Redes digitais e significados da crise no ocidente. In: Revista de Comunicação da FAPCOM, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 125-142, 1° sem. 2017b. Entrevista concedida a Marcella Schneider. Disponível em: https://fapcom.edu.br/revista-paulus/index.php/revista-paulus/article/view/14/14. Acesso em: 1o set. 2025.

DI FELICE, Massimo. Cidadania digital: a crise da ideia ocidental de democracia e a participação nas redes digitais. São Paulo: Paulus, 2020. (Coleção Cidadania Digital).

ECO, Umberto. A obra aberta. Tradução de Giovanni Cutolo. São Paulo: Perpectiva, 1991.

EMPOLI, Giuliano da. Os Engenheiros do Caos. Tradução de Arnaldo Bloch. São Paulo: Vestígio, 2019.

FEYERABEND, Paul. Adeus à razão. Tradução de Vera Joscelyne. São Paulo: Unesp, 2010.

HAN, Byung-Chul. Infocracia: digitalização e a crise da democracia. Tradução de Gabriel S. Philipson. Petrópolis (RJ): Vozes, 2022.

HEIDEGGER, Martin. Construir, habitar, pensar. In: Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes, 2001.

HEIDEGGER, Martin. Da essência da verdade. In: Ser e verdade. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis (RJ), Bragança Paulista (SP): Vozes, Ed. Univ. S. Francisco, 2007.

HEIDEGGER, Martin. A doutrina de Platão sobre a verdade. Tradução de Claudia Drucker e Silvania Gollnick. São Paulo: Imagomundi, 2018. Disponível em: http://www.imagomundi.com.br/filo/heidegger_verdade.pdf. Acesso em: 1o set. 2025.

HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução de Alex Martins. São Paulo: Martin Claret, 2004.

JANKÉLÉVITCH, Vladimir. L ́ironie. France: Flammarion,1964.

KAKUTANI, Michiko. A morte da verdade. Tradução de André Czarnobai e Marcela Duarte. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018.

KIERKEGAARD, Soren. O conceito de ironia constantemente referido a Sócrates. Tradução de Álvaro Luiz Montenegro Valls. Petrópolis (RJ): Vozes, 2013. (Coleção Vozes de Bolso).

LANEY, Douglas. Infonomics. London: Taylor & Francis. 2017.

MAFFESOLI, Michel. Prefácio: As redes sociais na cibercultura pós-moderna. In: DI FELICE, Massimo, TORRES, Juliana Cutolo, YANAZE, Leandro Key Higuchi. Redes sociais e sustentabilidade: as interações com o meio ambiente na era da informação. São Paulo: Anablume, 2012. p. 9-18.

MANCUSO, Stefano. Revolução das plantas. Tradução de Regina Silva. São Paulo: Ubu, 2019.

MELLO, Patrícia Campos. A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004.

MOSÉ, Viviane. Nietzsche e a grande política da linguagem. Petrópolis (RJ): Vozes, 2018.

NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

NIETZSCHE, Friedrich. Sobre verdade e mentira. Tradução de Fernando de Moraes Barros. São Paulo: Hedra, 2008.

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

NOBLE, Safiya. Algorithms of oppression: how search engines reinforce racism. New York: New York University Press, 2018.

PETERS, J. D. Speaking into the air: a history of the idea of communication, Chicago: The University of Chicago Press, 1999.

ROCHA, João Cezar de Castro. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político. Bagé (RS): Caminhos, 2021.

RORTY, Richard. Contingencia ironia e solidariedade. Tradução de Vera Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

SCOTT, C. P. A hundred Years. In: The Guardian. Disponível em: https://www-theguardian-com.translate.goog/sustainability/cp-scott-centenary-essay?_x_tr_sl=en&_x_tr_

tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc. Acesso em: 14 set. 2025.

SEGATTO, Antonio Ianni. Em busca da essência da verdade. In: Cadernos de filosofia alemã, São Paulo, n. 12, p. 149-157, jul.-dez. 2008. Disponível em: https://www.revistas. usp.br/filosofiaalema/article/viewFile/64801/67418. Acesso em: 1o set. 2025.

VATTIMO, Gianni. A sociedade transparente. Tradução de Carlos Aboim de Brito. Lisboa: Ed. 70, 1994.

VATTIMO, Gianni. Adeus à verdade. Tradução de João Batista Kreuch. Petrópolis (RJ): Vozes, 2016.

ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira de poder. Tradução de George Schlesinger. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021.

Téléchargements

Publié-e

2025-12-21

Comment citer

Neves, T., & Di Felice, M. (2025). A ironia na arquitetura informativa das redes digitais: o que as fake news têm a nos dizer sobre a verdade? . GALÁxIA. Revista Interdisciplinar De Comunicação E Cultura, 50(1), e67666. Consulté à l’adresse https://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/67666

Numéro

Vol. 50 No. 1 (2025): Galáxia volume 50

Rubrique

Artigos | Articles

Licence

© GALÁxIA. Revista Interdisciplinar de Comunicação e Cultura 2025

Licence Creative Commons

Cette œuvre est sous licence Creative Commons Attribution 4.0 International.

Os autores de artigos publicados mantêm os direitos autorais de seus trabalhos, licenciando-os sob a licença Creative Commons CC-BY, que permite que os artigos sejam reutilizados e distribuídos sem restrição, desde que o trabalho original seja corretamente citado. Os autores concedem para GALÁxIA. Revista Interdisciplinar de Comunicação e Cultura o direito de primeira publicação.