Da existência social parcial do movimento ateu brasileiro
Reflexões sobre a religião a partir do seu outro
DOI:
https://doi.org/10.23925/1677-1222.2023vol23i2a19Palavras-chave:
ateísmo, não-religião, campo religioso, abordagem relacionalResumo
Baseado na abordagem relacional da não-religião proposta por Johannes Quack (2014, 2020), este artigo se propõe, em primeiro lugar, esboçar uma descrição das formas sociológicas assumidas pelas tentativas de articulação de um movimento ateu no Brasil e, em segundo lugar, utilizar essas descrições para elaborar algumas reflexões de segunda ordem sobre a forma e o estatuto do religioso nesse contexto específico. Estas elaborações têm por base um trabalho de campo etnográfico multissituado realizado entre setembro de 2016 e fevereiro de 2018, tanto virtualmente quanto de forma presencial, nas redes de ativismo ateísta do país. Em geral, argumenta-se que, no Brasil, as iniciativas ateístas resistem à passagem do individual para o coletivo, permanecendo em um estado de semi-existência social que não por paradoxal resulta menos constitutivo. Esta configuração, argumenta-se, é função da associação generalizada da ideia de religião à ideia da igreja e, conjuntamente, do religioso ao social. A partir daí, reflete-se sobre a persistência de dinâmicas de longa data no campo religioso brasileiro, apesar das tendências de mudança registradas desde os anos 1980.
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