v. 23 n. 2 (2023): Os sem religião

No desenvolvimento dos estudos de religião, nomeadamente sobre a complexa teoria da secularização, preconizada pelos clássicos da Sociologia, tornou-se possível fazer emergir novos tópicos de pesquisa sobre o fenômeno religioso. A partir dos anos de 1970, em particular, para além da privatização da prática religiosa, surgiram também estudos sobre a não vivência religiosa, como o ‘ateísmo’ e até mesmo a categoria dos ‘sem religião’. Este tipo de abordagem é hoje, provavelmente, um dos maiores desafios para os cientistas sociais, na procura constante de explicar o papel da (não) religião nas sociedades modernas. O presente dossiê busca reunir textos resultantes de pesquisas, teóricas e empíricas, que tentam compreender a evolução histórica, sociológica, antropológica ou política dos sem religião, com foco no Brasil e em Portugal. Tem por objetivo a discussão sobre a contingência cultural do próprio conceito de não-religião, a forma como diferentes vicissitudes socioculturais e religiosas afetam a representação da não-religião e a identificação de locais onde os indivíduos não religiosos se enquadram, institucional ou não institucionalmente.