Um vestido imaginário?
Sobre imagens e mídias no culto à Benigna Cardoso
DOI:
https://doi.org/10.23925/1677-1222.2024vol24i3a3Palavras-chave:
Imagem, Vestido, Benigna Cardoso, Rosto, Pathosformel, MartírioResumo
Em 24 de outubro de 1941, Benigna Cardoso da Silva foi brutalmente assassinada, após resistir a uma tentativa de violência sexual, aos 13 anos de idade, na cidade de Santana do Cariri, interior do Ceará. Sem fotografias ou outras imagens da menina, que, martirizada, é cultuada na região como santa, um vestido vermelho de bolinhas brancas se tornou o próprio rosto de Benigna – entendido como elemento de identificação do sujeito na modernidade. Entre o real e o imaginado, entre o visível e invisível, a estampa daquela que é conhecida como a primeira beata cearense se repete em todas as versões já criadas para a figura sagrada, ecoando vertiginosamente nos corpos e mentes que as animam. Trajadas de vermelho com bolinhas brancas, fiéis pagam suas promessas e cultuam a memória de Benigna ao se fazerem presentes nos eventos religiosos da cidade. O dito vestido também estampa santuários, folhetos, esculturas e até mesmo páginas da rede social Instagram – imagens que, quer criadas por computação gráfica quer pela maestria dos artesãos da região do Cariri cearense, dão vida à menina cujas feições permanecem desconhecidas. Partindo de memórias e narrativas orais, além de reflexões teórico-interpretativas, neste artigo apresentamos de que maneira o vermelho de bolinhas tem produzido presenças materiais, provocado emoções (pathos), criado e recriado vínculos de sentido e vínculos afetivos.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Aby Warburg e a ciência sem nome. In: BARTHOLOMEW, C. (org.). Dossiê Aby Warburg. Revista Arte e Ensaios. Rio de Janeiro, n. 19, p. 132-143, jan. 2010.
AGAMBEN, Giorgio. O rosto e a morte. Instituto Humanitas Unisinos, 2021. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/608961-o-rosto-e-a-morte-artigo-de-giorgio-agamben Acesso em 24 mar. 2024.
ALVES, Daniele Ribeiro. O feminino dilacerado: purificação e santificação de mulheres assassinadas. Ed. UECE. Fortaleza. 2012.
BAITELLO JUNIOR, Norval. A carta, o abismo, o beijo: Os ambientes de imagens entre o artístico e o mediático. São Paulo: Editora Paulus, 2018.
BAITELLO JUNIOR, Norval. Conhecimento e Comunicação. C&S – São Bernardo do Campo, v. 41, n. 1, p. 317-329, jan.-abr. 2019.
BARRETO, Polliana de Luna Nunes. Educação e santidade: as representações do feminino na Região do Cariri cearense. 2018. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós-graduação em Educação, Fortaleza (CE), 2018.
BELTING, Hans. A verdadeira imagem. Porto: Dafne Editora, 2011.
BELTING, Hans. Antropología de la imagen. Trad. Gonzalo Espinosa. Buenos Aires: Katz Editores, 2007.
BELTING, Hans. Facce – una storia del volto. Roma: Carocci Editore, 2015.
BELTING, Hans. Imagem, mídia e corpo: uma nova abordagem à Iconologia. Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia – Ghrebh-, v. 1, n. 08: São Paulo, 2006. Disponível em: http://www.cisc.org.br/portal/jdownloads/Ghrebh/Ghrebh-%208/04_belting.pdf. Acesso em: 1º fev. 2024. https://doi.org/10.31789/imscid-201819
BELTING, Hans. Likeness and Presence: A History of Image before The Era of Art. Chicago: The University of Chicago Press, 1994.
CICEK, Hüseyin. Sobre as ambivalências do martírio. Veritas (Porto Alegre), [S. l.], v. 66, n. 1, p. e40274, 2021. DOI: 10.15448/1984-6746.2021.1.40274. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/veritas/article/view/40274. Acesso em: 22 mar. 2024.
CIDRÃO, Raimundo Sandro. Resgatando a memória de Santana do Cariri. Santana do Cariri: HB Gráfica e Editora, 2017.
CIDRÃO, Raimundo Sandro. Resgatando uma história de fé: Benigna. Santana do Cariri: HB Gráfica e Editora, 2014.
CONTRERA, Malena Segura. Imagens endógenas e imaginação simbólica. Revista Famecos: mídia, cultura e tecnologia, v. 23, n. 1. EDIPUCRS, 2016. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/21350/13701. Acesso em: 30 fev. 2024.
COURTINE, Jean-Jacques. HAROCHE, Claudine. História do rosto: exprimir e calar emoções: (do século 16 ao começo do século 19). Tradução de Marcus Penchel. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
DIDI-HUBERMAN, Georges. A Imagem Sobrevivente: História da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Que emoção! Que emoção? São Paulo: Editora 34, 2016.
ELIADE, Mircea. Imagens e símbolos. Lisboa: Ed. Arcádia, 1979
GOMBRICH, Ernst. Aby Warburg: an intellectual biography. London: The Warburg Institute University of London, 1970.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Brasileiro de 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/santana-do-cariri/panorama Acesso em: 30 fev. 2024.
RAFAEL, Armando Lopes; ALVES, João Paulo Cabral; NUVENS, Plácido Cidade. CIDRÃO, Raimundo Sandro. FÉLIX, Ypsilon Rodrigues. Benigna: Um lírio no sertão cearense. Santana do Cariri: BSG, 2014.
SERVA, Leão Pinto. A “fórmula da emoção” na fotografia de guerra: como as imagens de conflitos se relacionam com a tradição iconográfica explorada por Aby Warburg. 2017. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2017.
WARBURG, Aby. Histórias de Fantasmas para Gente Grande. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Attribution-NonCommercial 4.0 International, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.