A invenção do mito

Adesão evangélica ao bolsonarismo e a hipótese laclauniana

Autores

  • Paulo Gracino Junior Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ); Universidade Candido Mendes (UCAM) https://orcid.org/0000-0002-6764-4797
  • Mayra Goulart Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

DOI:

https://doi.org/10.23925/2176-2767.2023v76p11-37

Palavras-chave:

Bolsonarismo, Evangélicos, Populismo de direita, Eleições

Resumo

Neste artigo trabalhamos com a hipótese de que as denominações evangélicas são as principais interlocutoras da população periférica e o fazem não só do ponto de vista da escassez, da opressão e marginalização, mas tendo como principal mediador o discurso teológico de fundo moral. Mesmo em contextos em que as CEBS foram as grandes artífices dos movimentos sociais e o catolicismo da libertação uma ferramenta potente de mobilização do significado da linguagem política transformada em ação, as igrejas evangélicas ganham terreno como articuladores legítimos das demandas sociais. Assim, antes de serem máquinas de alienação, as denominações religiosas são tecnologias de organização social, atuando como dispositivos de dominação política aderidas, em sua quase totalidade, à candidatura de Jair Bolsonaro. Desta forma, trabalharemos com o cabedal teórico de Ernesto Laclau para analisar a construção do bolsonarismo como gramática de ação política.

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Publicado

2023-04-25

Como Citar

Junior, P. G., & Silva, M. G. (2023). A invenção do mito : Adesão evangélica ao bolsonarismo e a hipótese laclauniana . Projeto História : Revista Do Programa De Estudos Pós-Graduados De História, 76, 11–37. https://doi.org/10.23925/2176-2767.2023v76p11-37