A REFORMA EM CURSO NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO E A NATURALIZAÇÃO DAS DESIGUALDADES ESCOLARES E SOCIAIS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2020v18i1p158-179

Palavras-chave:

Reforma curricular, Itinerários formativos, Reprodução, Legitimação, Desigualdades escolares.

Resumo

Este estudo discute as mudanças definidas para o “novo” ensino médio brasileiro. O foco de análise recai sobre o aspecto que diz respeito à reforma curricular que instaura os itinerários formativos. Para dar conta desse propósito, levantamos o seguinte problema de pesquisa: a escolha por itinerários formativos pode contribuir para o alargamento das desigualdades no sistema escolar? Do ponto de vista da abordagem teórica, este artigo fundamentou a análise da reforma curricular à luz da perspectiva dos sociólogos Pierre Bourdieu e Jean Claude-Passeron. A proposta da análise teórica é correlacionar os itinerários formativos com a função própria aos sistemas de ensino, quais sejam: a de reprodução e de legitimação das desigualdades sociais. Em termos metodológicos, produzimos uma pesquisa cuja perspectiva pretendeu-se qualitativa. O enfoque da investigação empírica sustentou-se no documento da Lei 13.415/2017, por isso, elegemos a técnica de pesquisa análise documental. Nossa proposta metodológica passou obrigatoriamente pela análise da estrutura discursiva presente na Lei. Para tanto, descrevemos, analisamos e interpretamos os enunciados do texto, procurando perceber o que subjaz às palavras, suas construções ideológicas e os discursos implícitos. Ao fim, inferimos que a função própria aos sistemas de ensino de ocultar sua relação dissimulada com as classes sociais vincula-se ao objetivo, também oculto, da reforma do ensino médio e dos itinerários formativos, qual seja: propiciar a estudantes, impedidos de fazer “escolhas”, uma formação diminuta baseada em realidades sociais demasiadamente desiguais, elevando, dessa maneira, as desigualdades e as injustiças que serão reproduzidas e legitimadas pelo próprio campo educacional.

 

Biografia do Autor

Renan Santos Furtado, UFPa - Escola de Aplicação

Graduado em Licenciatura em Educação Física pela Universidade Federal do Pará (UFPA) no ano de 2017. Especialista em Educação Física Escolar pela Escola Superior Madre Celeste (ESMAC) no ano de 2018. Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPA (PPGED) no ano de 2019. Doutorando em Educação no  Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPA (PPGED). Professor da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará. Professor da SEDUC/PA entre 2017 e 2018. Membro do Centro Avançado de Estudos em Educação e Educação Física (CAÊ), integrando a linha de pesquisa: Estudos de Formação e Práticas Pedagógicas em Educação e Educação Física. Atua como Revisor dos periódicos Arquivos em Movimento (UFRJ) e Interfaces da Educação (UEMS). Possui aproximação, estudos e pesquisas nos seguintes temas: Políticas Educacionais; Processos e Práticas Colaborativas de Formação de Professores; Educação Física Escolar; Práticas Corporais e Questões Epistemológicas e Filosóficas da Educação e da Educação Física. Apresenta experiência na Educação Física escolar e na formação continuada de professores como áreas de intervenção e pesquisa a partir de vínculos institucionais, empregatícios e programas de políticas públicas.

Vergas Vitória Andrade da Silva, Universidade Federal do Pará - Escola de Aplicação.

Possui graduação (2003), mestrado (2006) e doutorado (2012) em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente é professora da Educação Básica na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará e vice-coordenadora de Pesquisa e Extensão da EA/UFPA. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia das emoções e sociologia da educação, atuando principalmente nos seguintes temas: subjetividade, imaginário social; representações sociais e práticas culturais.

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Publicado

2020-03-31

Edição

Seção

Artigos