Lótman continua a surpreender: revoluções e emoções coletivas
Palavras-chave:
Iúri Lotman, Semiótica das emoções, Semiótica do medo, Comportamento social, Caça às bruxas, Bode espiatórioResumo
Entre 1988 e 1993, Iúri M. Lótman formulou algumas proposições sobre “a voz da massa anônima”: uma voz coletiva que, em certas situacões ligadas a crises de caráter cultural, é portadora de paixões violentas que podem produzir interferências profundas no curso da história. Em seus últimos trabalhos, o semioticista russo postulou, diante disso, a noção de uma semiótica das emoções como objeto de estudo para entender a dinâmica cultural, em especial de períodos tidos como revolucionários ou de transição, a saber, quando a massa anônima é capaz de manipular os eventos ou quando, revendo o passado, confere aos eventos uma interpretação distorcida. Lótman focalizou, principalmente, a relação entre as grandes fraturas históricas, os mecanismos de autopropagação do medo e a criação cultural de bodes expiatórios. O presente estudo visa abordar a reflexão de Lótman sobre perseguição, com especial atenção à figura da mulher durante o fenômeno de caça às bruxas.