A palavra como mediação entre a percepção humana e o existente
Keywords:
Charles S. Peirce. Filosofia. Teoria da Percepção. Teoria dos Signos. Linguagem Verbal.Abstract
Resumo: Este artigo busca investigar alguns aspectos e características da mediação exercida pelas palavras entre a percepção humana e universo do existente.
Feixes de perceptos, isto é, diferentes estímulos do existente, do mundo, batem à porta da percepção humana, que os converte em signos, e a estes em linguagem. No homem e pelo homem se opera o processo de alteração dos sinais, i.e. qualquer estímulo emitido pelos objetos do mundo, em signos ou linguagens (produtos da consciência). Como não há elemento na consciência que não possua algo correspondente na palavra, temos que, entre a percepção humana, pela qual conhecemos as coisas como existindo, e o existente, há uma ponte construída com palavras pela linguagem verbal destinada à transmissão e manipulação da informação. Nesse processo, homens e palavras educam-se mutuamente, pois Peirce postula que cada aumento de informação humana envolve e é envolvido por um aumento de informação das palavras.
A compreensão do processo de criação das palavras torna-se, por esses motivos, fundamental para os objetivos aqui propostos, e será elucidada a partir dos mecanismos de associação por semelhança e contigüidade descritos por Peirce. Esses mecanismos encontram-se na base da constituição de todo e qualquer tipo de linguagem, e neste artigo serão analisados em função de sua importância na constituição da linguagem verbal, e especificamente, na geração das palavras.
Outro aspecto relevante para a investigação da função mediadora das palavras é sua natureza sígnica, mais especificamente, suas características de lei. Como legissignos, as palavras fazem parte de sistemas e encontram-se em constante evolução, que como postula Peirce, está diretamente relacionada ao aumento de informação humana. Essa evolução está intimamente ligada à tese central de Peirce de que todo pensamento se dá em signos que são, na maioria, da mesma estrutura geral das palavras. O processo de evolução das palavras ao longo do tempo será assim abordado a partir das teorias sígnica e da percepção peircenas, pelas quais se torna compreensível como as palavras incorporam, cada vez mais, o que o homem conhece ou sente sobre os perceptos.
References
Referências
IBRI, Ivo Assad. Kósmos Noetós: a arquitetura metafísica de Charles S. Peirce. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992.
PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2005.
_______. Collected Papers. Versão eletrônica, Intelex, 1992. (Citado como CP seguido do número do volume, ponto e do numero do parágrafo.)
SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense,1983.
________. Six degrees of iconicity: from pure icon to metaphor. In V.COLAPIETRO & T. OLSHEVSKY (Orgs.), Peirce’s doctrine of signs, p. 205-213. Berlin: Mouton de Gruyter, 1996.
________. A percepção: uma teoria semiótica. São Paulo: Experimento, 1998.
________. A teoria geral dos signos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2000.
________. Matrizes da linguagem e pensamento: sonora, visual, verbal: aplicações na hipermídia. São Paulo: Iluminuras: FAPESP, 2001.
________. O que é o símbolo. In: Computação, cognição, semiose. J. QUEIROZ, A. LOULA; R. GUDWIN (orgs.). Salvador: EDUFBA, 2007.
________. Ícone e cognição: o ícone puro, os ícones perceptivos e os hipoícones. Artigo inédito, fornecido pela autora, a ser inserido na edição aumentada do livro Percepção: uma teoria semiótica, 2010.
SANTAELLA, Lucia; NÖTH, Winfried. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 1997.
SHAPIRO, Michael. Dynamic Interpretants and Grammar. In Transactions of the Charles S. Peirce Society, Vol. 24, n.1, p.123-130, 1988.
SHORT, Thomas L. Life among the legisigns. In Transactions of the Charles S. Peirce Society, Vol.18, n.4, p. 285-310, 1982.
SILVEIRA, Lauro Frederico Barbosa. Curso de Semiótica Geral. São Paulo: Quartier Latin, 2007.