Invisibilização indígena no conflito e região do Contestado e suas representações museológicas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/2176-4174.36.2025e72651

Palavras-chave:

Guerra do Contestado, Invisibilização Indígena, Kaingang e Xokleng, Representação, Museus

Resumo

Em meio ao território de ocupação tradicional kaingang e xokleng, sistematicamente espoliado desde tempos coloniais, ocorreu a Guerra do Contestado (1912-1916): clímax de um conflito bélico devastador, resultante do esbulho de terras de pequenos agricultores nacionais pelas elites locais apoiadas pelas forças federais. Soma-se a este, a disputa territorial entre o Paraná e Santa Catariana. Tema de uma pesquisa ampla envolvendo docentes e discentes da Área de Antropologia da UEL, a invisibilização forjada e irrelevância atribuída à presença indígena na região e frente ao contexto disruptivo inerente ao Conflito, ficam evidenciados através de estudos de documentos, análise da Historiografia e da Etnologia hegemônicas. O presente ensaio infere sobre as representações acerca desses indígenas a partir da investigação e análise de itens expostos e/ou de acervos de alguns museus regionais dedicados à memória da Guerra. Os resultados ratificam a sua marginalização, tanto em relação aos acervos quanto diante das descrições museológicas.

Biografia do Autor

Gabriel Tozatto Pires, Universidade Estadual de Londrina

Graduado em Ciências Sociais (Licenciatura) pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), com trabalho de conclusão de curso defendido na área de Antropologia. Atualmente, desenvolve estudos relacionados à memória, invisibilização indígena, lugares de memória e suas representações sociais, tendo o evento da Guerra do Contestado e seus desdobramentos como temática central. Atuou como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) em dois editais (n. 23/2022 e n. 10/2024). No momento, cursa pós-graduação lato sensu em Ensino de Sociologia na UEL e é membro do Grupo de Investigação sobre o Movimento do Contestado (GIMC).

Flavio Braune Wiik, Universidade Estadual de Londrina

Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Oslo, Doutorado (PhD) em Antropologia pela Universidade de Chicago, seguido de dois estágios pós doutorais em Antropologia Social pelo PPGAS/UFSC (2003-2006; 2020-2021). É Professor Titular  de Antropologia junto ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina no Paraná (UEL). A sua produção bibliográfica e atuação acadêmico-profissional compreendem e perpassam os seguintes campos, temas e áreas do conhecimento: Etnologia Indígena; Antropologias da Saúde, da Religião e da História; Teoria Social e da Cultura; Ideais Societários e relações Homem-Natureza. É membro da Associação Nacional de História, da Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia e da International Union of Anthropological and Ethnological Sciences (IUAES). Foi Pesquisador/Bolsista das Fundações Ford e Rockefeller.

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Publicado

2025-08-25

Como Citar

Pires, G. T., & Wiik, F. B. . (2025). Invisibilização indígena no conflito e região do Contestado e suas representações museológicas. Cordis: Revista Eletrônica De História Social Da Cidade, (36), e72651. https://doi.org/10.23925/2176-4174.36.2025e72651