MANUELA SÁENZ E A OMISSÃO DA HISTÓRIA COMO VIOLÊNCIA DE GÊNERO
Abstract
Amante, louca, ninfomaníaca, adúltera, messalina, estéril, filha de origem espúria, guerrilheira, revolucionária, exilada, feminista, Libertadora del Libertador, La Generala, La Coronela, La insepulta de Paita. Sobram adjetivos e substantivos para personificar, e muitas vezes reduzir, Manuela Sáenz de Thorne (1797-1856) na historiografia, na literatura, em reportagens ou até mesmo numa busca rápida por seu nome na internet.
Uma das protagonistas dos movimentos de independência da América espanhola tinha sua história ignorada pela maioria de seus contemporâneos e ainda hoje, séculos depois de sua morte, sobram preconceitos para esta mulher que desperta ódio ou amor e, muitas vezes, é reduzida pelas narrativas literárias e historiográficas como amante de Simón Bolívar. Um olhar patriarcal que a coloca no lugar de coadjuvante na luta pela emancipação das colônias e que promove na memória coletiva não só o apagamento de sua participação nesse processo, que começa antes mesmo de conhecer Bolívar, como cala a importância da convergência dos projetos de libertação nacional e de libertação das mulheres, um pioneirismo de movimentos feministas latino-americanos. Percebe-se assim uma violência de gênero, ao ser imposto um discurso de poder que tira o protagonismo das mulheres na história, atribuindo o papel de submissas e passivas no lugar de lutadoras e transformadoras.
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