O olhar saramaguiano acerca da identidade performada
O homem duplicado
DOI:
https://doi.org/10.23925/1983-4373.2024i33p162-180Palavras-chave:
Duplo, José Saramago, Reprodutibilidade técnica, Performance, DespersonalizaçãoResumo
O artigo discute a representação do duplo relacionado à identidade, arquitetada por José Saramago em O homem duplicado, por meio da crítica à reprodutibilidade técnica (Benjamin, 2015) e à despersonalização do indivíduo no contexto contemporâneo. Embora o duplo entrelaçado ao questionamento da identidade esteja presente na tradição literária, esse romance transcende as preocupações do indivíduo, estendendo-se ao contexto social. A narração lança mão do fantástico como recurso crítico, atentando para uma tensão existente entre sujeito e realidade social em um contexto de incertezas (Roas, 2014). O protagonista representa o indivíduo sintomático da contemporaneidade, que, desestabilizado pela objetificação capitalista e premido pelo consumo, desempenha uma identidade neonarcisista performada (Lipovetsky, 2005). A agudeza do olhar saramaguiano denuncia a crise de identidade estrutural proporcionada pelas relações utilitárias e pela instabilidade característica da sociedade contemporânea (Hall, 2006), resultando em um sujeito beligerante e competidor, incapaz da aceitação do outro, do convívio altruísta e fraterno.
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