Chamada FronteiraZ 36: Infância. Infantil. Literatura: mediações

2025-11-07

Neste número da Revista FronteiraZ a infância não corresponde a uma delimitação etária que se confunde muitas vezes com a criança, mas a uma faculdade que não cessa de habitar cada um de nós enquanto enigma intermitente que resiste à decifração. Em que língua seria possível contar essa experiência enigmática que opera, segundo Rosana Kohl Bines (2022), no silêncio e nas elipses, minando por dentro a frase articulada? Como escrever a voz infantil, seus ecos, vestígios, restos?
Infância, segundo Giorgio Agamben (2008), não pode ser algo que precede cronologicamente a linguagem e que deixa de existir uma vez versada na palavra. Uma expropriação do sujeito da modernidade produz o homem como sujeito da modernidade em paralelo ao fim da arte de contar - esta é a transição de tempos velhos para os tempos modernos.
Uma vez dado um lugar à experiência, volta-se para a palavra na dupla unidade língua e fala, essa é a regra: limite e estrutura do conhecimento. Portanto, fora da perspectiva da experiência da linguagem, não se pode entender a articulação voz e linguagem no discurso, visto que é por meio da mediação que nos identificamos com a infância constituída numa unidade comum: palavra mais in-fância.
É nesse vão, entre língua inarticulada e discurso, lugar onde emerge a infância agindo sobre o sujeito, é que nasce o infantil, como um modo de conhecer as duas dimensões do tempo diacrônico e sincrônico, duas linguagens cindidas: a língua e a fala que se transferem à poética sincrônica da Literatura de Infância, querendo dizer e significar. Esse corpo de linguagem vive a infância em permanente retorno à porta da linguagem; quer ser tempo no lugar lógico da Infância, em permanente retorno, a transformar a certeza sensível em processo dialético, que não é nem totalidade nem verdade (Gagnebin, 1979).
Qual e o que é o literário infantil? No literário infantil, imagens revelam-se reinventadas, uma vez liberto de métodos presentes na linguagem fabular. Ao se identificar com o infantil, com o sentido de species como gênero, a voz mostra-se a si mesma e expõe o modo como deve ser pensada e significada como um discurso originário; é a voz que quer captar o mito que permite abrir o significado ao ser sem mais atender à mimese do passado, ao colocar o dado originário na experiência muda, na Voz. São esses os signos da infância expressos pela via dos processos de crescimento e desenvolvimento dos signos poéticos manifestos no literário, mediação que leva pesquisadores a perguntar: qual é a fenomenologia da linguagem poética? Quais são as estratégias da palavra ser em ato de fala, sua instância discursiva? Qual é o lugar da maravilha que esse evento é? Como criar zonas de passagem e mediações entre infância, infantil e escrita?

Esperamos receber contribuições que articulem de maneira sensível e inventiva a Infância, o Infantil e a Literatura, ampliando a compreensão desses significantes contemporâneos. Nesse sentido, acolheremos propostas que abordem temáticas, a saber:
- Infância, linguagem e imaginação;
- Poéticas de pensamento com a infância;
- Reinvenções do infantil na experiência literária;
- Dimensões lúdicas e imaginativas com a infância;
- Políticas da infância e da imaginação infantil;
- Imagens da infância nas mediações: leitura, literatura e artes.

Data limite para submissão de artigos: 10/03/2026