A definição ácido-base de Arrhenius dos livros-textos de química: a história de um obstáculo epistemológico e suas consequências para o ensino-aprendizagem

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DOI:

https://doi.org/10.23925/2178-2911.2022v25p19-30

Resumo

A assim chamada definição ácido-base de Arrhenius, presente em vários livros-textos de Química no Brasil, foi analisada tanto do ponto de vista epistemológico, usando o referencial teórico dos obstáculos epistemológicos de Gaston Bachelard, quanto do ponto de vista histórico, através de pesquisa bibliográfica em publicações originais dos químicos Svante Arrhenius e Justus von Liebig, bem como em materiais relacionados à história das definições ácido-base. O objetivo deste trabalho é contribuir para a problematização do ensino das definições ácido-base, a partir do questionamento da definição atribuída a Arrhenius e amplamente disseminada na comunidade química no Brasil. Não foram encontradas evidências bibliográficas que demonstrem que Arrhenius tenha cunhado alguma definição ácido-base, e a partir dessa constatação é proposto que a definição atribuída a Arrhenius nos livros-textos é uma acomodação/amalgamação da teoria da dissociação eletrolítica de Arrhenius com a longeva definição de Liebig para ácidos, baseada na presença de hidrogênio e aceita pelos químicos no século XIX. Argumenta-se que a definição ácido-base atribuída a Arrhenius nos livros-textos é também errônea, uma vez que soluções aquosas ácidas ou básicas podem ser preparadas sem a adição de solutos contendo íons hidrogênio ou hidroxila. É proposto que o obstáculo epistemológico substancialista representado pela exigência de hidrogênio na composição dos ácidos foi responsável pela transferência de fidelidade da definição de ácidos de Liebig para a teoria iônica de Arrhenius, uma vez que esta pode explicar a reatividade de ácidos e eletrólitos em geral em solução aquosa. As consequências do ensino da errônea definição ácido-base atribuída a Arrhenius são discutidas, e estratégias didáticas para o ensino das definições ácido-base no ensino médio e nos cursos de formação inicial e continuada de professores de química e ciências são apresentadas.

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Publicado

2022-07-01

Edição

Seção

História da Ciência e Ensino