Legislando a Favor do Retrocesso

o PL 504/2020 e a proibição da publicidade LGBTQIAPN+ no estado de São Paulo

Autores

  • Ronaldo Alexandrino Universidade Estadual de Campinas
  • Sonia da Cunha Urt Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
  • Ângela Soligo Universidade Estadual de Campinas

DOI:

https://doi.org/10.23925/2175-3520.2024i57p113-120

Palavras-chave:

PL 504/2020, Publicidade, LGBTQIAPN , Projeto Escola sem Partido, Estado democrático de direito

Resumo

O presente artigo propõe uma análise, a partir da Teoria das Representações Sociais, do texto integral do PL 504/2020, que circulou na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) no referido ano, que versava sobre o que se chamou, no texto jurídico, de proibição da publicidade LGBTQIAPN+. Partindo do pressuposto de que o conceito de homossexualidade é uma construção social, foi possível identificar no texto do projeto de lei duas representações sociais que justificam a sua existência, a sodomia e a pederastia, que culpabilizam, patologizam e criminalizam os sujeitos LGBTQIAPN+ historicamente. Após análise de todo o corpo do texto legal, percebe-se que, mesmo com o PL 504/2020 sendo barrado na Alesp, ele gera um impacto social quando de suas discussões. A lógica de manutenção do Estado, através do discurso a favor da família tradicional e proteção às crianças, é usada como dispositivo de instauração de pânico social na tentativa de manter a extrema direita do poder. O PL 504/2020, que vem na esteira do inconstitucional Projeto Escola sem Partido, de 2019, caracteriza-se assim como mais uma tentativa de deslegitimar o Estado de direito democrático e pode ser entendido como um prenúncio da ideologia da campanha eleitoral de 2022 que se anuncia. A proibição da visibilidade e o diálogo em torno das temáticas de gênero e orientação sexual, incide sobre a escola, seus conteúdos e funcionamento, e se constitui obstáculo ao princípio da formação cidadã promulgada pela LDB de 1996.

Biografia do Autor

Ronaldo Alexandrino, Universidade Estadual de Campinas

Ronaldo Alexandrino é Doutor (2018) e Mestre (2009) em Educação na área de Psicologia Educacional pela Universidade Estadual de Campinas / Unicamp. Possui Pós-doutorado em Psicologia (2023) pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul / UFMS. Atualmente é docente da Faculdade de Educação da Unicamp, no Departamento de Ensino e Práticas Culturais (DEPRAC) e membro do grupo de pesquisa DiS (Diferenças e Subjetividades em Educação).Tem experiência de pesquisa e ensino nas áreas de Psicologia e de Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: representações sociais, gênero e sexualidade na escola, questões educacionais e a população LGBTQIA+, formação de professores, políticas públicas educacionais e a população LGBTQIA+, subjetividade LGBTQIA+; além das questões voltadas ao campo da Didática, Avaliação e Gestão Escolar.

Sonia da Cunha Urt, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Pós-doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidad de Alcalá de Henares, Espanha, e Universidade de Lisboa, Portugal. Doutora em Educação com ênfase em Psicologia Educacional pela Unicamp (1992). Mestra em Educação (Psicologia da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo (1989). Graduada em Psicologia, Pedagogia e Administração de Empresas. Professora titular aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Professora Pesquisadora Sênior dos Programas de Pós-Graduação em Educação e em Psicologia da UFMS. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Psicologia (Geppe/UFMS).

Ângela Soligo, Universidade Estadual de Campinas

Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). É docente/pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Departamento de Psicologia Educacional; membro do Grupo de Pesquisa de Estudos e Pesquisas Diferenças e Subjetividades em Educação: estudos surdos, do racismo, gênero e infância (DiS). Ex-presidente da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (Abep), ex-presidente da Associação Latino-americana de Formação e Ensino de Psicologia (Alfepsi).

Referências

Alexandrino, R. (2021). A suposta homossexualidade. Curitiba: Appris.

Alexandrino, R., & Soligo, A. (2013). Homossexualidade e formação de professores no Brasil. Fermentario. Uruguay, v.2, n.7. Disponível em: http://www.fermentario.fhuce.edu.uy/index.php/fermentario/article/view/116/163. Acesso em 14/06/2021.

Cabral, J. T. (1999). A sexualidade no mundo ocidental. 2. ed. Campinas: Papirus.

Catonné, J. (2001). A sexualidade, ontem e hoje. 2. ed. São Paulo: Cortez.

Green, J. N., & Polito, R. (2006). Frescos trópicos: fontes sobre a homossexualidade masculina no Brasil (1870-1980). Rio de Janeiro: José Olympio.

Sá, C. P. (2004). Representações Sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In: SPINK, Mary Jane (Org.). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense.

São Paulo (2020). Assembleia Legislativa. Projeto de Lei n° 504/2020, de 05 de agosto de 2020. Proíbe a publicidade, através de qualquer veículo de comunicação e mídia de material que contenha alusão a preferências sexuais e movimentos sobre diversidade sexual relacionados a crianças no Estado. São Paulo: Assembleia Legislativa. Disponível em https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1000331594. Acesso em 01/12/2024.

UFMT; FENPB (2018). Violência e preconceitos na escola: contribuições da Psicologia. Brasília: Conselho Federal de Psicologia.

Downloads

Publicado

2025-02-27