Ciência, poder e técnica
A fotografia judiciária como instrumento de ordem entre a polícia científica e a medicina legal em São Paulo (1913-1940)
DOI:
https://doi.org/10.23925/2176-2767.2025v84p234-264Palabras clave:
Criminalística e ciência penal no século XX, história da medicina legal em São Paulo, positivismo, Código Penal de 1940Resumen
O artigo analisa a articulação técnica e social entre os campos médico, jurídico e policial na primeira metade do século XX em São Paulo, com foco na consolidação da fotografia judiciária no âmbito da investigação policial e científica. O estudo se fundamenta em fontes da época e se orienta pelo debate historiográfico para entender o uso da ciência durante a mobilização institucional do Estado em torno da garantia da ordem no período. A narrativa percorre a gênese da polícia técnica, a fundação da cátedra de medicina legal e o novo Código Penal de 1940, com o intuito de identificar os agentes que operacionalizaram saberes e fixaram sentido às instituições e às leis responsáveis pelos serviços de investigação e reconhecimento fotográfico em São Paulo. O que se demonstra é que se tratou de uma elite guiada por saberes de matriz positivista eurocêntrica: medicina legal, criminologia e criminalística. A matriz positivista orienta os projetos de capilaridade disciplinar e pulverização institucional, por meio dos quais revela-se a extensão e a longevidade do aparato repressivo paulista.
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