“‘Nego’ era ‘barato’ perto do que eles diziam”
Memórias de discriminação de ex-futebolistas negros que atuaram no interior do Rio Grande do Sul a partir da segunda metade do século XX
DOI :
https://doi.org/10.23925/2176-2767.2023v76p324-350Mots-clés :
Futebol, Racismo, História Oral, DiscriminaçãoRésumé
O racismo no futebol é um tema atual de interesse internacional. Nesse sentido, esta pesquisa procurou analisar, por meio da História Oral temática, as memórias de ex-futebolistas negros que atuaram em clubes das cidades de Pelotas e Rio Grande a partir da segunda metade do século XX. Os resultados indicaram que o racismo se manifestou pelo menos de duas formas: uma explícita, com xingamentos das torcidas que ocorriam em qualquer região do estado, mas eram mais intensas em regiões de forte imigração europeia; e outra mais sutil e dissimulada, identificada pelas poucas oportunidades que os ex-futebolistas negros recebem nas áreas técnica e executiva. Concluiu-se que o futebol não é uma área imune às tensões raciais presentes na sociedade brasileira, mas um espaço no qual coexistem movimentos simultâneos de inclusão e de exclusão de negros.
Références
ABRAHÃO, B. O. de L. O “preconceito de marca” e a ambiguidade do “racismo à brasileira” no futebol. Doutorado, UGF, Rio de Janeiro, Brasil, 2010.
ABRAHÃO, B. O. de L. O “racismo à brasileira” no futebol. In: GIGLIO, S. S.; PRONI, M. W. O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2020.
ALBERTI, V. Manual de história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2013. [3ª Ed.].
ALMEIDA, S. L. de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento: Justificando 2018.
BANDEIRA, G. A.; SEFFNER, F. Aranha, macaco e veado: o legítimo e o não legítimo no zoológico linguístico nos estádios de futebol. Movimento, Porto Alegre, vol. 22, nº 3, 2016. pp. 985-998.
BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012. [8ª Ed.].
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Brasília, Diário Oficial da União, 2003.
CANDAU, J. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2011.
CAVALCANTI, E. A.; CAPRARO, A. M. Racismo no futebol sul-americano: o caso Grafite versus Desábato. Motriz, Rio Claro, vol. 15, nº 4, 2009. pp. 741-748.
CORREIA, J. M. et al. A emergência e a disseminação do futebol na cidade de Rio Grande/RS: uma análise a partir do jornal Echo do Sul (1900-1916). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Porto Alegre, vol. 42, nº 1, 2020.
DAMATTA, R. Relativizando: uma introdução à antropologia estrutural. Petrópolis: Vozes, 1981.
DAMATTA, R. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Guanabara, 1997. [6ª Ed.].
DAMATTA, R. Antropologia do óbvio. Revista USP, São Paulo, nº 22, 1994. pp. 10-17.
ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992.
FERNANDES, F. Integração do Negro na sociedade de classes. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1965.
FLORENZANO, J. P. A cerimônia do adeus: “a nação traída” (I parte). Ludopédio, São Paulo, vol. 123, nº 5, 2019. Disponível em: https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/a-cerimonia-do-adeus-a-nacao-traida-parte-1/. Acesso em: 22/02/2021.
FOUCAULT, M. A vida dos homens infames. In: FOUCAULT, M. O que é um autor? Lisboa: Nova veja, 2009. [7ª Ed.].
FREYRE, G. Casa-grande y senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo, Global, 2003. [48ª Ed.].
GIGLIO, S. S. et al. “Do céu ao inferno”: a história de Baiano no Boca Juniors e os racismos no futebol. Projeto História, São Paulo, nº 49, 2014. pp. 259-292.
GOUSSINSKY, E. Futebol inglês cria 'cota' para incluir técnicos negros e de minorias. R7, 01/07/2020. Disponível em: https://esportes.r7.com/futebol/futebol-ingles-cria-cota-para-incluir-tecnicos-negros-e-de-minorias-01072020. Acesso em: 08/06/2021.
GUIMARÃES, A. S. A. Preconceito de cor e racismo no brasil, Rev. Antropol., São Paulo, vol. 47, nº 1, 2004. pp.09-43.
GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 2005. [2ª Ed.].
GUTIERREZ, E. J. B. Barro e sangue: mão-de-obra, arquitetura e urbanismo em Pelotas (1777-1888). Doutorado, PUCRS, Porto Alegre, 1999.
HASENBALG, C. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005. [2ª Ed.].
HELAL, R.; GORDON JÚNIOR, C. Sociologia, história e romance na construção da identidade nacional através do futebol. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 13, nº 23, 1999, pp.147-165.
HOFBAUER, A. Uma história do branqueamento ou o negro em questão. São Paulo: Ed. UNESP, 2006.
HOLLANDA, B. B. B. de. Futebol, memória e relatos orais: a trajetória de ex-jogadores da Seleção Brasileira e as narrativas memorialísticas das Copas do Mundo FIFA 1954-1982. Revista História Oral, Rio de Janeiro, vol. 20, nº 1, 2017. pp.101-123.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/pelotas/panorama. Acesso em: 18/05/2020.
JORGE LAFOND. Museu da TV. Disponível em: http://www.museudatv.com.br/biografia/jorge-lafond/. Acesso em: 28/04/2021.
LEITE, I. B. Negros no Sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996.
LIMA, V. “É muito difícil escapar”: Campeão brasileiro de 2009, Andrade discute racismo, Libertadores e Jesus. E avisa: “Acabou isso de cheirinho”. Uol Esporte, São Paulo, s.d. Disponível em: https://www.uol.com.br/esporte/reportagens-especiais/andrade-ultimo-tecnico-negro-campeao-brasileiro-se-voce-parar-para-pensar-nao-tem-diretor-negro/. Acesso em: 11/01/2023.
LISE, R. S. et al. O caso Tinga: análise de (mais) um episódio de racismo no futebol sul-americano. Pensar a Prática, Goiânia, vol. 18, nº 4, 2015. pp.821-833.
LONER, B. A. Classe Operária – Mobilização e Organização em Pelotas: 1888-1937. Doutorado, UFRGS, Porto Alegre, 1999.
MACKEDANZ, C. F. Racismo “nas quatro linhas”: os negros e as ligas de futebol em Pelotas (1901-1930). Mestrado, UFPEL, Pelotas, 2016.
MACKEDANZ, C. F. et al. O Negro no Futebol Brasileiro. Revista Licere, vol. 24, 2021. pp. 147-172.
MACKEDANZ, C. F.; RIGO, L. C. “Racismo à brasileira” no futebol rio-grandino: notas sobre a Liga Esportiva Rio Branco (1926-1930). Cadernos de História, Belo Horizonte, Dossiê do Esporte, 2021. No Prelo.
MACKEDANZ, C. F. et al. Liga de Futebol José do Patrocínio (1919-1936): Um símbolo de resistência ao preconceito racial no futebol pelotense. Projeto História, São Paulo, vol. 70, 2021, pp. 235-260.
MAESTRI, M. O negro e o imaginário étnico gaúcho. In: Universidade de Santa Cruz do Sul. (Org.). Diversidade étnica e identidade gaúcha. Santa Cruz do Sul: Ed. UNISC, 1994. pp. 129-140.
MAGALHÃES, M. O. Opulência e Cultura na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul: um estudo sobre a história de Pelotas (1860-1890). Pelotas: EdUFPel: Livraria Mundial, 1993.
MBEMBE, A. Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: N’Edições, 2018.
MEIHY, J. C. S. B. Manual de história oral. São Paulo: Loyola, 1998. [2ª Ed.].
MEIHY, J. C. S. B.; HOLANDA, F. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2013. [2ª Ed.].
MEIHY, J. C. S. B.; RIBEIRO, S. L. S. Guia prático de história oral: para empresas, universidades, comunidades, famílias. São Paulo: Contexto, 2011.
MONTENEGRO, A. T. História, metodologia, memória. São Paulo: Contexto, 2010.
MONTENEGRO, A. T. Invenção do Olhar. In: SIMSON, O. R. (Org.). Os desafios contemporâneos da História Oral. Campinas: CMU/Unicamp, 1997. pp. 197-211.
MUNANGA, K. Teorias sobre o racismo. Estudos & Pesquisas, Rio de Janeiro, vol. 4, 1998, pp. 43-67.
MUNANGA, K. Superando o racismo na escola. Brasília: MEC-SECAD, 2005. [2ª Ed.].
NOGUEIRA, O. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestões de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. Tempo Social, São Paulo, vol. 19, nº 1, 2006, pp. 287-308.
OLIVEN, R. G. A parte e o todo: a diversidade cultural no Brasil-nação. Petrópolis: Vozes, 1992.
O Negro no Futebol Brasileiro. Direção de Gustavo Acioli. Brasil: HBO, 2018. 4 episódios.
ORTIZ, R. Cultura brasileira & identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985.
PAOLI, P. B. Os estilos de futebol e os processos de seleção e detecção de talentos. Doutorado, UGF, Rio de Janeiro, 2007.
PEREIRA, L. A. de M. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938). Doutorado, UNICAMP, Campinas, 1998.
PIERSON, D. Brancos e pretos na Bahia. São Paulo: Editora Nacional, 1971.
PIRES, B. Um olhar antirracista sobre o futebol. In: OBSERVATÓRIO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO FUTEBOL. 6º Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol. Porto Alegre: Museu da UFRGS, 2019.
PISCITELLI, A. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras. Sociedade e Cultura, Goiânia, vol. 11, nº 2, 2008, pp. 263-274.
RIAL, C. S. Rodar: A Circulação dos Jogadores de Futebol Brasileiro no Exterior. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, vol. 14, nº 30, 2008. pp. 21-65.
RIGO, L. C. Memórias de um Futebol de Fronteira. Pelotas: Ed. UFPel, 2004.
RIGO, L. C. et al. Formação de jogadores de futebol em clubes de uma cidade do interior: circulação, escolarização e inserção no futebol profissional. Movimento, Porto Alegre, vol. 24, nº 1, 2018. pp. 263-274.
SANSONE, L. Negritude sem etnicidade: o local e o global nas relações raciais e na produção cultural negra do Brasil. Salvador: Ed. UFBA; Rio de Janeiro, Pallas, 2003.
SANTOS, J. A. dos. Liga da Canela Preta: a história do negro no futebol. Porto Alegre: Diadorim, 2018.
SANTOS, J. R. O que é racismo. São Paulo: Brasiliense, 1984.
SANTOS, S. A. dos. Mídia e o “caso Tinga” no Peru: um novo paradigma de representação das relações raciais na televisão brasileira? Revista da ABPN, vol. 6, nº 13, 2014. pp. 273-299.
SCHWARCZ, L. K. M. Nomeando as diferenças: a construção da ideia de raça no Brasil. In: VILLAS BOAS, G.; GONÇALVES, M. A. (Orgs.). O Brasil da virada do século: o debate dos cientistas sociais. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.
SCHWARCZ, L. K. M. Racismo no Brasil. São Paulo: PubliFolha, 2001.
SOUZA, D. A. de. Mário Filho e o messianismo de Pelé (1958-1966). Ludopédio, São Paulo, vol. 123, nº 12, 2019. Disponível em: https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/mario-filho-e-o-messianismo-de-pele-1958-19661a-parte/. Acesso em: 22/02/2021.
SOUZA, M. T. O. S. et al. Injúria racial no futebol brasileiro: uma análise sócio-histórica de alguns casos (não tão) esporádicos ocorridos nos últimos anos. Motrivivência, Florianópolis, vol. 27, nº 46, 2015. pp. 230-240.
TONINI, M. D. Além dos gramados: história oral de vida de negros no futebol brasileiro (1970-2010). Mestrado, USP, São Paulo, 2010.
TONINI, M. D. Dentro e fora de outros gramados: histórias orais de vida de futebolistas brasileiros negros no continente europeu. Doutorado, USP, São Paulo, 2016.
TONINI, M. D. “Essa é uma realidade”: os racismos vividos e narrados por negros em várias áreas de atuação no futebol brasileiro. In: GIGLIO, S. S.; PRONI, M. W. O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Editoria da Unicamp, 2020.
TORRES, L. H. A cidade do Rio Grande: escravidão e presença negra. Biblos, Rio Grande, vol. 22, nº 1, 2008. pp. 10-117.
Entrevistas
Claudiomiro Vargas Coelho (Miro). Christian Ferreira Mackedanz. 11/2020.
Oscar Conceição (Oscar). Christian Ferreira Mackedanz. 01/2021.
Gilnei dos Santos Gomes (Ney Gaúcho). Christian Ferreira Mackedanz. 06/2020.
Paulo Cesar de Freitas Leal (PC). Christian Ferreira Mackedanz. 10/2020.
Jeferson Cirilo Mesquita Martha (Cirilo). Christian Ferreira Mackedanz. 11/2020.
Ubiraci Souza de Souza (Bira). Christian Ferreira Mackedanz. 05/2020.
Téléchargements
Publiée
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Tous droits réservés Projeto História : Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História 2023
Ce travail est disponible sous la licence Creative Commons Attribution 4.0 International .
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.