Do emaranhamento ao engambelamento quântico:

uma abordagem semiótica das estratégias da pseudociência e das dificuldades da divulgação científica – Parte 1

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/1984-3585.2022i25p125-155

Palavras-chave:

Divulgação científica, Física quântica, Linguagem, Conhecimento de conteúdo, Conhecimento procedural, Conhecimento epistêmico

Resumo

Este artigo apresenta a primeira parte de um estudo semiótico a respeito das estratégias mobilizadas pela pseudociência para explorar as dificuldades da divulgação científica. Analisamos, do ponto de vista semiótico, uma das principais dificuldades envolvidas na divulgação de teorias científicas complexas para o público de não-especialistas (o público leigo): o problema da distância entre os fenômenos descritos pelas representações teóricas da ciência e a realidade conforme captada pelo aparato sensório humano no contexto cotidiano e entendida pelo senso comum. Aquilo que a ciência descreve não é o que as pessoas veem ou estão acostumadas a achar que veem. O problema básico é a dificuldade de tradução (para fins de divulgação científica) que advém da distância entre a realidade como objeto das representações teóricas científicas e a realidade como objeto das representações corriqueiras do senso-comum e do homem leigo. O foco do artigo está voltado para um caso particular desse problema geral: o campo científico da física quântica e as dificuldades para se explicar a estrutura do átomo para não-especialistas. Utilizamos o aparato teórico e conceitual da semiótica peirceana para analisar um caso particular em que a estrutura atómica é explicada metaforicamente como uma edificação. Um dos principais objetivos é mostrar que o processo de tradução envolvido na divulgação científica possui três camadas que refletem três tipos básicos de conhecimento: o conhecimento de conteúdo, procedural e epistêmico. O principal objetivo da análise é mostrar que parte considerável de nossos problemas na divulgação científica é devido ao fato de que o processo de tradução geralmente se concentra (de forma excessiva) no conhecimento de conteúdo em detrimento dos outros tipos (o conhecimento procedural e epistêmico).

Biografia do Autor

Gustavo Rick Amaral, Universidade Anhembi Morumbi

RICK AMARAL é doutor pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (2014) da PUC/SP e mestre pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica (2009) também da PUC-SP. Áreas de pesquisa: semiótica teórica; Filosofia da Ciência e Epistemologia; comunicação e divulgação científica; aplicação de Data Science e metodologias assistidas por Inteligência Artificial à pesquisa semiótica; aplicação de modelos cognitivos ao estudo do processo de significação em geral e fenômenos da desinformação. É autor do livro "Os avanços da ciência podem acabar com a filosofia?" em parceria com o físico Ronaldo Marin (editora Estação das Letras e Cores, 2020). É professor dos cursos de Comunicação Social da Universidade Anhembi-Morumbi. Foi coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade PAULUS de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM) no período 2015-2016. Foi professor no curso de Comunicação Social e do curso de Filosofia da Faculdade PAULUS de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM) no período 2012-2016. É pesquisador do Centro Internacional de Estudos Peirceanos (CIEP/PUC-SP) e do grupo de pesquisa Transobjeto (dedicado ao estudo das implicações das tecnociências emergentes na epistemologia, ética e política).

Ronaldo Marin

Físico com pós-graduação pelo Departamento de Eletrônica Quântica IF Gleb Wathagin – Unicamp. Doutor em estudos semióticos e Artes pelo IA – Unicamp. Diretor do Centro de Pesquisas da Interpretação e da Consciência da Personagem no Cena IV – Shakespeare Cia. Diretor do Instituto Shakespeare Brasil. Pesquisador do grupo de pesquisa Transobjeto (TIDD-PUC-SP). CV Lattes: lattes.cnpq.br/5295634003756551.

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Publicado

2022-12-26