Do emaranhamento ao engambelamento quântico:
uma abordagem semiótica das estratégias da pseudociência e das dificuldades da divulgação científica – Parte 1
DOI:
https://doi.org/10.23925/1984-3585.2022i25p125-155Palavras-chave:
Divulgação científica, Física quântica, Linguagem, Conhecimento de conteúdo, Conhecimento procedural, Conhecimento epistêmicoResumo
Este artigo apresenta a primeira parte de um estudo semiótico a respeito das estratégias mobilizadas pela pseudociência para explorar as dificuldades da divulgação científica. Analisamos, do ponto de vista semiótico, uma das principais dificuldades envolvidas na divulgação de teorias científicas complexas para o público de não-especialistas (o público leigo): o problema da distância entre os fenômenos descritos pelas representações teóricas da ciência e a realidade conforme captada pelo aparato sensório humano no contexto cotidiano e entendida pelo senso comum. Aquilo que a ciência descreve não é o que as pessoas veem ou estão acostumadas a achar que veem. O problema básico é a dificuldade de tradução (para fins de divulgação científica) que advém da distância entre a realidade como objeto das representações teóricas científicas e a realidade como objeto das representações corriqueiras do senso-comum e do homem leigo. O foco do artigo está voltado para um caso particular desse problema geral: o campo científico da física quântica e as dificuldades para se explicar a estrutura do átomo para não-especialistas. Utilizamos o aparato teórico e conceitual da semiótica peirceana para analisar um caso particular em que a estrutura atómica é explicada metaforicamente como uma edificação. Um dos principais objetivos é mostrar que o processo de tradução envolvido na divulgação científica possui três camadas que refletem três tipos básicos de conhecimento: o conhecimento de conteúdo, procedural e epistêmico. O principal objetivo da análise é mostrar que parte considerável de nossos problemas na divulgação científica é devido ao fato de que o processo de tradução geralmente se concentra (de forma excessiva) no conhecimento de conteúdo em detrimento dos outros tipos (o conhecimento procedural e epistêmico).
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