MURALHAS RELIGIOSAS DENTRO DO SEMINÁRIO CATÓLICO: Homoafetividade e religião na obra Em nome do desejo, de João Silvério Trevisan

Resumo

Os desejos homossexuais, segundo uma leitura pessimista, não seriam “naturais” e, por isso, seriam passíveis de condenação, cura ou repressão. Por outro lado, a literatura romanesca moderna que trata dessas sensibilidades afetivas abriu um novo espaço além da literatura sagrada do cristianismo, tornando-se uma forma de compreender a religião repressora e a expressão das liberdades das minorias, alcançadas no contexto das lutas sociais travadas na democracia presente no Mundo Ocidental. Nesse sentido, a temática homoafetiva na literatura romanesca de língua portuguesa ainda é incomum, mas possui uma história centenária. Mas, o objeto deste artigo é propor a pergunta sobre o estatuto do desejo homoafetivo em romances do século XX cujo pano-de-fundo seja religioso. Por isso, analisou-se o romance Em Nome do Desejo, de João Silvério Trevisan – autor brasileiro pouco conhecido, diretor e roteirista de cinema, tradutor e jornalista – cuja trama central se passa em um seminário da Igreja Católica figurando o amor entre dois seminaristas. Utilizando de métodos de análise literária e do discurso, e acenando para a teologia, apresentaremos as tramas do romance, a força da repressão eclesiástica e a imposição dos dogmas. O resultado destaca a importância desse romance, apesar da tragédia, como espaço de enfrentamento das violências religiosas sobre o desejo – e sua internalização – e da abertura para a experiência do desejo-amor que conduz os dois seminaristas pelos além “vales da sombra da morte”, ou seja, as liturgias monótonas, os sermões, agressivos, o cinismo moral, as censuras e as pressões eclesiásticas.