Literatura e literalidade: a cristoforia hagiográfica em São Julião Hospitaleiro, de Flaubert e São Cristóvão, de Eça de Queiroz
DOI:
https://doi.org/10.23925/2236-9937.2020v22p180-208Palavras-chave:
cristoforia, Flaubert, Eça de QueirozResumo
Nossa proposta é investigar a representação da cristoforia em duas narrativas do século 19: a Lenda de São Julião Hospitaleiro, de Gustave Flaubert, e São Cristóvão, de Eça de Queiroz. Por "cristoforia" entendemos o significado etimológico e literal do transporte do Cristo. Ambas lendas hagiográficas reescritas ganham novas implicações de ordem semântica e estética. A imitatio Christi se desdobra tanto no âmbito literário quanto no âmbito moral: lançar, transportar, transladar a palavra do Cristo, em narrativas nas quais o santo por vezes ganha traços de personagem de ficção a partir da “forma simples” que é a lenda. De que maneira tal retomada da narrativa exemplar consistiria em uma subversão da própria vida dos santos ? Partimos de dois topoï (os elementos pagãos e diabólicos bem como o transporte do Cristo e a ascensão ao céu) para indagarmos se, do ponto de vista analítico, a narrativa hagiográfica – cujo objetivo é transmitir um modelo exemplar ao leitor – passa por uma subversão literal e literária através da transferência da lenda à narrativa de ficção.
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