“O feminismo finalmente venceu”: metapragmáticas misóginas e antifeministas disfarçadas de liberdade de expressão
Palavras-chave:
Impolidez, Violência linguístico-discursiva, Sexismo, MisoginiaResumo
Almejamos analisar, nesta pesquisa[1], como a misoginia se estabelece em uma interação no X (antigo Twitter), sob o argumento de defesa de opinião, para legitimar discursos de ódio. No âmbito teórico, concebemos, à luz da Sociolinguística Interacional e da Pragmática, que as estratégias de impolidez colaboram com a construção de cenários de violência linguístico-discursiva em interações mediadas on-line, na medida em que tanto reduzem a distância interlocutiva quanto geram metapragmáticas machistas, misóginas, patriarcais e antifeministas. No âmbito metodológico, inscrevemo-nos em uma abordagem qualitativa para, a partir do método netnográfico, analisarmos uma interação no X a partir dos critérios de inclusão e de exclusão propostos neste estudo. No âmbito analítico, constatamos que os interlocutores C, E e F se valeram, com frequência, de estratégias de impolidez na construção de discursos pautados na defesa de opinião para atacar o feminismo e legitimar discursos de ódio.
[1] Esta produção inscreve-se no projeto Interações on-line em tempos de pandemia: violência linguístico-discursiva em gêneros textuais diversos, de autoria do professor Rodrigo Albuquerque.
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