Fato vs. texto: como a “objetividade” oculta o caráter discursivo do jornalismo

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Mots-clés :

Objetividade jornalística, Dialogia, Gêneros do discurso, História do jornalismo

Résumé

O conceito de objetividade jornalística está lastreado na noção de “fato”, de que o jornalismo reporta o mundo exterior, como as ciências naturais. Ao longo da história do jornalismo, “fato” e “objetividade” têm sido conceitos centrais para a afirmação social e para a formulação de métodos profissionais. No entanto, o jornalismo não se debruça sobre fatos, exceto numa minúscula parte da sua atividade, mas sobre textos, sobre discursos. Não reporta o mundo; reporta fontes, reporta informações ou textos de outrem. É, assim, uma atividade fundamentalmente discursiva. Este artigo faz a crítica da noção de “fato” no jornalismo e mostra, com análise de textos do portal UOL, como o jornalismo é sobretudo linguagem sobre linguagem, e não linguagem sobre mundo. Assim, não se aplicam a ele conceitos oriundos do positivismo tradicional, da dicotomia sujeito/objeto. A perspectiva discursiva é muito mais pertinente.

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Mário Messagi Júnior, Universidade Federal do Paraná

Mário Messagi Júnior é jornalista. Fez graduação em Comunicação e mestrado em Letras/Linguística na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde é professor nos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda desde 1997. Ministra as disciplinas de Teoria da Comunicação, História da Comunicação, Economia Política da Comunicação e Teoria e Ética Jornalística. Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), é autor de dois livros: Teorias da Comunicação: aplicações contemporâneas (2018) e Outros Junhos Virão (2019) e diversos artigos em periódicos.

Seu interesse inicial foi nos estudos da linguagem e história da linguagem jornalística. Cursou um ano e meio de graduação em Letras e fez todos os créditos do doutorado em História, ambos na UFPR, mas não concluiu os cursos.

Desde 2013, tem focado seus estudos em questões relacionadas à comunicação e política e ao impacto das apropriações sociais e econômicas das tecnologias nestes campos. Do ponto de vista amplo, tem interesse por estudos sobre as mudanças em curso nas maiores indústrias culturais do planeta: música, audiovisual e jogos; nos principais campos profissionais da comunicação: jornalismo e publicidade (sobretudo comunicação política); e nos meios de comunicação: rádio, TV, jornal e serviços noticiosos online.

Dentro deste campo amplo de temas, mantém uma visão, em geral, historiográfica nas suas abordagens e uma filiação ao campo da Economia Política da Comunicação. Por isso, pondera sempre os aspectos econômicos e regulatórios dos problemas que se coloca, mas leva em consideração também as formas como as pessoas consomem cultura, publicidade, informação jornalística e política.

Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Paraná de 2000 a 2003 e membro da Comissão Nacional de Ética dos Jornalistas do Brasil de 2013 a 2016 e tem uma forte filiação com os problemas profissionais dos jornalistas.

Atualmente, faz pós-doutorado na University of Cape Town (UCT), na África do Sul, onde desenvolve um estado da arte sobre as transformações pelas quais o jornalismo está passando atualmente, a partir de artigos científicos publicados nos principais periódicos do mundo. Busca entender as mudanças em cinco eixos fundamentais: 1) novos modelos de financiamento do jornalismo; 2) novas formas de consumo de informação jornalística; 3) novas práticas profissionais; 4) novo ecossistema jornalístico; e 5) mudanças nas relações dos jornalistas com a tecnologia.

A coleta de resultados de pesquisas nestes eixos deve subsidiar, no entanto, a resposta ao problema principal: qual a formação necessária para os jornalistas exercerem sua profissão neste contexto, quais as novas competências requeridas para se fazer jornalismo hoje?

Références

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Publié-e

2021-12-01

Comment citer

Messagi Júnior, M. (2021). Fato vs. texto: como a “objetividade” oculta o caráter discursivo do jornalismo . Bakhtiniana. Revista De Estudos Do Discurso, 17(1), Port. 166–186 / Eng. 168. Consulté à l’adresse https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/49210

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