“O Carlos teve azar, foi o primeiro da lista”: reflexões sobre a repressão em Moçambique a partir da relação entre mídia e rap

Autores

  • Francisco Carlos Guerra de Mendonça Júnior Universidade Federal do Cariri

Palavras-chave:

Rap, mídia, Moçambique, repressão, mortes.

Resumo

Este artigo analisa a repressão no cenário de Moçambique, país de língua oficial portuguesa, localizado na África Austral, tendo como objeto de estudo a relação entre a mídia e a música rap. O artigo apresenta o papel do rap como ferramenta contra-hegemônica e folkcomunicacional, que se contra- põe aos interesses das elites políticas globais e discute temas não debatidos na mídia. O trabalho também analisa o controle da mídia em Moçambique, discutindo aspectos históricos e suas configurações na atualidade. A partir disso, mostra casos de censura a músicas que contrapõem a história oficial e questionam o sistema político. As músicas analisadas são País da Marrabenta, de 2002, e As Mentiras da Verdade, de 2006, que foram censuradas pela Rádio Cidade de Maputo, de ordem estatal. Além de questionar problemas sociais, essas músicas põem em questão a possibilidade de haver a participação de dirigentes da Frelimo, partido no poder, na morte do primeiro presidente do país, Samora Machel, no ano de 1986, e no assassinato do jornalista investi- gativo Carlos Cardoso, ocorrido em 2000.

Biografia do Autor

Francisco Carlos Guerra de Mendonça Júnior, Universidade Federal do Cariri

Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de Coimbra; Professor substituto de jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA); jornalista e radialista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; rapper.

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Publicado

2022-05-19

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Seção

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