Investigação científica em rede de Portugal para a Europa: o caso da descoberta da cinchonina (1810)
DOI:
https://doi.org/10.23925/2178-2911.2023v27espp407-420Palabras clave:
cinchonina; Bernardino António Gomes (1768-1823); história da farmácia;Resumen
Resumo
O isolamento de princípios ativos das plantas vulgarizou-se no século XIX. Cientistas de diversos países contribuíram para este campo da química. De entre as drogas de origem vegetal sujeitas a estudos químicos, destaca-se o caso da casca de quina (proveniente de várias espécies do género Cinchona). Esta casca antimalárica foi extensamente aplicada no tratamento de muitos tipos de febre, como as febres intermitentes. Em Portugal, a quina era de grande interesse, e o governo português procurou alternativas terapêuticas no seu território.
Este artigo pretende discutir o isolamento da cinchonina a partir da quina, em Portugal, e a sua relevância para o isolamento da quinina em França. O ensino deste marco da ciência portuguesa exemplifica um caso em que um cientista português influenciou a ciência realizada fora do país. O médico Bernardino António Gomes (1768 – 1823) envolveu-se no estudo da quina, realizando análises químicas comparativas entre a quina e potenciais substitutos vegetais vindos do Brasil. Este estudo químico foi acompanhado do uso clínico destas cascas. A investigação de Gomes resultou no isolamento do primeiro alcaloide da quina, a cinchonina, em 1810.
O estudo de Gomes foi conhecido além-fronteiras, principalmente em França, e citado em várias publicações estrangeiras. Incitados pela pesquisa de Gomes, os farmacêuticos franceses Joseph Pelletier (1788 – 1842) e Joseph-Bienaimé Caventou (1795 – 1877) analisaram vários tipos de quina, usando um método muito semelhante ao de Gomes. O estudo químico da quina por estes cientistas franceses resultou no isolamento da quinina, uma substância antimalárica que acabou por substituir a quina na terapêutica.
Palavras-chave: cinchonina, Bernardino António Gomes (1768-1823), história da farmácia
Abstract
The isolation of active principles from plants became widespread in the 19th century. Scientists from different countries have contributed to this field of chemistry. Among the drugs of vegetable origin subject to chemical studies, cinchona bark (a bark obtained from several species of the genus Cinchona) stands out. This antimalarial bark was widely used in the treatment of many types of fever, such as intermittent fevers. In Portugal, cinchona bark was of great interest, and the Portuguese government sought therapeutic alternatives within its territory.
This article aims to discuss cinchonine’s isolation from cinchona bark in Portugal, and its relevance for quinine’s isolation in France. The teaching of this milestone of Portuguese science exemplifies a case in which a Portuguese scientist influenced science carried out outside the country. Doctor Bernardino António Gomes (1768-1823) became involved in cinchona bark’s research, carrying out comparative chemical analyzes between cinchona bark and potential vegetable substitutes from Brazil. This chemical study was accompanied by clinical use of these barks. Gomes’ investigation resulted in the isolation of the first cinchona bark alkaloid, cinchonine, in 1810.
Gomes’ study was known across borders, mainly in France, and cited in several foreign publications. Inspired by Gomes’ research, the French pharmacists Joseph Pelletier (1788–1842) and Joseph-Bienaimé Caventou (1795–1877) analyzed various types of cinchona bark, using a very similar method to that of Gomes. Cinchona bark’s chemical study by these French scientists resulted in the isolation of quinine, an antimalarial substance that ended up replacing cinchona bark in clinical practice.
Keywords: cinchonine, Bernardino António Gomes (1768-1823), history of pharmacy