De mãos vazias perante a morte: Sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira

Autores

  • Pedro Pereira UCP

DOI:

https://doi.org/10.23925/2236-9937.2021v23p380-393

Palavras-chave:

Filosofia, Literatura, Deus, Morte, Vergílio Ferreira

Resumo

A densidade filosófica da obra de Vergílio Ferreira estabelece-se nas fronteiras do jogo entre a finitude e o transcendente. De Aparição a Estrela Polar, passando por Em Nome da Terra ou Para Sempre, o drama da existência rompe com o sentido aparente da significação do sujeito, abrindo-o à deriva ontológica e ao resgate do tempo passado como condições para a compreensão existencial. No sofrimento daquele que rememora, vemos o remorso da incompletude, da frugalidade e da efemeridade, que conduzem o sujeito a uma paradoxal procura do divino [seja enquanto entidade metafísica ou enquanto potencialidade criativa de um ser confinado às limitações e potencialidades de um corpo]. Deus é, simultaneamente, a condição para a afirmação da liberdade criadora do sujeito e a constatação agónica do absurdo de existir. Deus assoma, então, na obra de Vergílio Ferreira, como pêndulo entre a vontade de afirmação e o absurdo das possibilidades. Da ambivalência do lugar de Deus, emerge o Homem como ser lançado na existência e absorto de culpa. O Homem como potencial de criação que é capaz da mais exacerbada capacidade de olhar o Tempo, de rememorar. O Homem que se vê como um ser em processo e, portanto, que sobrevive [ilusoriamente?] à catástrofe da transitoriedade. Vergílio impõe a reflexão sobre o que permanece do sujeito em processo de ser, um sujeito que efetivamente só se descobre na memória, interpretada como espaço de recriação e de significação. Mais do que indagar sobre as possibilidades do divino, a obra de Vergílio Ferreira pode ser interpretada como a procura de uma afirmação do eterno, como conjunto de instruções sobre como morrer, que permita ver a morte como síntese e harmonia de tudo o que se concebe no reino profícuo das possibilidades [Estrela Polar]. No fundo, a fim de realçar o legado do ser, mostra-se o Homem na diáspora por Deus, o que o expõe na sua ambivalência como ser de fronteira: entre o eterno [da memória, da capacidade, do sonho] e o futuro [que esconde sempre a morte, o vazio e a solidão]

Biografia do Autor

Pedro Pereira, UCP

Universidade do Porto

Referências

ANTUNES DE SOUSA, José e MORUJÃO, Carlos [et al.] - Vergílio Ferreira – da Ficção à Filosofia, Universidade Católica Editora, 2015.

FERREIRA, Vergílio – Aparição, Portugália Editora, 1959.

FERREIRA, Vergílio – Estrela polar, Portugália Editora, 1962.

FERREIRA, Vergílio – Espaço do Invisível I, Arcadia, 1978.

FERREIRA, Vergílio – Espaço do Invisível IV, INCM, 1987.

FERREIRA, Vergílio – Para Sempre, Quetzal, 2008.

FERREIRA, Vergílio – Em Nome da Terra, Quetzal, 2009.

FERREIRA, Vergílio – Invocação ao Meu Corpo, Quetzal, 2011.

GODINHO, Hélder [et al.] – Estudos Sobre Vergílio Ferreira, INCM, 1982.

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Publicado

2021-04-15

Como Citar

Pereira, P. (2021). De mãos vazias perante a morte: Sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira. TEOLITERARIA - Revista De Literaturas E Teologias, 11(23), 380–393. https://doi.org/10.23925/2236-9937.2021v23p380-393