Entre Escritos Canônicos, Apócrifos e Contemporâneos: múltiplas imagens de um mesmo Jesus?
DOI :
https://doi.org/10.19143/2236-9937.2016v6n11p122-151Mots-clés :
Cristianismo, Literatura, José Saramago, Canônicos, ApócrifosRésumé
A figura de Jesus talvez seja uma das figuras mais controversas da história. Controversa porque apesar de ser um homem que viveu em determinada época e espaço, sua imagem não é unívoca. A literatura canônica e apócrifa, que gira em torno de sua vida pública, nos oferece um panorama interessante acerca da figura de Jesus. Não apenas por apresentarem imagens distintas de um mesmo homem, mas por imprimirem a ele uma concepção específica de mundo que parece estar mais atrelada às comunidades que berçaram tais textos que ao próprio Jesus. No entanto, enquanto estes escritos, que disputavam entre si uma hegemonia, outorgavam a manifestação da Verdade Absoluta, outro escrito que (re)vive a história de Jesus, este contemporâneo, subverte todo o conceito de verdade e brinca com esta tradição antecessora. O evangelho do escritor lusitano José Saramago, ao reverter a imagem sedimentada de Jesus, busca romper com um horizonte transcendente. Ao resgatar a figura do homem Jesus, desligando-o de uma filiação extraterrena, Saramago opera uma ação questionadora da verdade estabelecida e imputa aos homens a responsabilidade ética nos rumos civilizacionais. À maneira dos escritos dos primeiros séculos que se apropriaram da figura de Jesus e a moldaram conforme seus interesses, Saramago repete tal ação contemporaneamente, fazendo de Jesus seu porta-voz.
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