“Metamorfoses decoloniais”: o inconsciente animista e transmutações como cosmovisão nas Literaturas Africanas

Autores

  • Silvio Ruiz Paradiso Universidade Federal de Grande Dourados

Palavras-chave:

Realismo animista, Metamorfose, Transmutação, Literatura Africana

Resumo

“Metamorfose” é um termo inerente à realidade colonial, em que os paradigmas e concepções ontológicas e identitárias descortinam uma questão recorrente na literatura africana: Quem sou eu? A partir disso, este artigo objetiva analisar o fenômeno da metamorfose/transmutação como uma das características do texto real-animista, consequência estética advinda da concepção animista de ver o mundo. Para tanto, discutiremos como a presença do imaginário da religiosidade tradicional africana se traduz em recorrentes episódios insólitos – como a transmutação –, através da obra de escritores africanos, como o nigeriano Amós Tutuola, o angolano Décio Bettencourt e o moçambicano Mia Couto. Por fim, veremos que a presença deste fenômeno traduz não só um imaginário mítico, mas os devires homem e nação em sociedades fragmentadas identitariamente pelo colonialismo.

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Biografia do Autor

Silvio Ruiz Paradiso, Universidade Federal de Grande Dourados

Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Faculdade de Letras EAD, Programa de Pós-Graduação em Letras – FALE, Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil

Coordenador do Grupo de Pesquisa LITERÁFRIKA - Literaturas Africanas, História e Pós-Colonialismo

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Publicado

2023-11-30

Como Citar

Paradiso, S. R. (2023). “Metamorfoses decoloniais”: o inconsciente animista e transmutações como cosmovisão nas Literaturas Africanas . Bakhtiniana. Revista De Estudos Do Discurso, 19(1). Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/62376

Edição

Seção

Artigos