EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE LÍNGUAS DE PRESTÍGIO NO BRASIL: UMA ANÁLISE DOS DOCUMENTOS OFICIAIS

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.23925/2318-7115.2018v39i2a4

Palabras clave:

Educação bilíngue, Documentos oficias, Cultura, Formação de professores

Resumen

Na era de mundialização da comunicação, globalização da economia e planetarização das relações internacionais, os brasileiros, de forma geral, demonstram um interesse cada vez maior em aprender línguas estrangeiras de prestígio, principalmente, o inglês, devido, não só ao fato de que essa língua exerça o papel de comunicação mundial por excelência, mas, também, pela representação que circula comumente no imaginário nacional de que a língua inglesa proporcionaria maiores possibilidades de ascensão social (RAJAGOPALAN, 2009). Nesse cenário, evidencia-se um crescimento significativo, no Brasil, de escolas bilíngues que têm como línguas de instrução o inglês e o português. A demanda por parâmetros legais que regulamentarizem e norteiem essas escolas torna-se cada vez mais premente em face do aumento do número dessas instituições e, consequentemente, da necessidade de formação de professores que atuem nesse contexto. Embora ainda não tenhamos uma lei em âmbito nacional, os estados do Rio de Janeiro e de Santa Catarina lançaram, em 2013 e 2016, respectivamente, documentos oficiais que estabelecem normas para a oferta da Educação Bilíngue em escolas de Educação Básica. Este artigo tem como objetivo apresentar uma análise crítica das premissas teóricas que embasam esses documentos e discutir a formação do professor esperada de acordo com essas resoluções. A análise desses documentos teve como base os conceitos de educação bilíngue (SALGADO et al., 2009; GARCÍA, 2009; FLORES; BEARDSMORE, 2015; WRIGHT; BOUN; GARCÍA, 2015); cultura (KRAMSCH, 1998; 2001; 2013), interculturalidade (MAHER, 2007a; CANDAU, 2008), repertório linguístico (BUSCH, 2012; 2015) e sujeito bilíngue (GARCÍA, 2009; MAHER, 2007b). Os resultados apontam para o fato de que há uma visão monoglóssica de educação bilíngue, presente nesses documentos, centrada apenas no ensino da língua. Desse modo, propõem uma descrição de professores habilitados para a docência nesse contexto pautada apenas em seus conhecimentos linguísticos, desprezando todo conjunto de saberes pedagógicos relacionados aos componentes curriculares e de conhecimentos teórico-metodológicos relacionados à educação bilíngue e ao bilinguismo. 

Métricas

Cargando métricas ...

Biografía del autor/a

Antonieta Heyden Megale, Instituto Singularidades

Doutora em Linguística Aplicada pela Unicamp (2017), realizou seu estágio doutoral na Universität Viadriana (Alemanha), é mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012). Atualmente é coordenadora do curso de pós graduação em Educação Bilíngue: desafios e possibilidades e da extensão do Instituto Singularidades. É professora do curso Bilinguismo: Revisão de Teorias e Análise de Dados da PUC/ COGEAE e dos cursos de pós graduação em Educação Bilíngue e Cognição da Faculdade IENH (Novo Hamburgo/RS) e Educação Bilíngue do Instituto Superior de Educação Ivoti (SC).

Citas

BLOMMAERT, J.; RAMPTON, B. Language and Superdiversity. Diversities. v. 13, n. 2, p. 1-22, 2011.

BLOOMFIELD, L. Linguistic aspects of science. Philosophy of Science 2, p. 499- 517, 1935.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 225, DF, v. 134, n. 248, 23 dez. 1996. Seção I, p. 27834-27841. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+62+da+Lei+de+Diretrizes+e+Bases+-+Lei+9394%2F96>. Acesso em: 19 fev. 2017.

BUSCH, B. The Linguistic Repertoire Revisited. Applied Linguistics, v. 33, n. 5, p. 503-523, 2012.

BUSCH, B. Linguistic repertoire and Spracherleben, the lived experience of language. Working Papers in Urban Language & Literacies. Paper 148. 2015. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2018.

CANDAU, V. M. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, A. F.; CANDAU, V.M. (Orgs.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 13-37.

COELHO, D. B.; OLIVEIRA, J. M. de M. As multinacionais brasileiras e os desafios do Brasil no século XXI. Revista Brasileira de Comércio Exterior, n. 110, p. 44-57, jan./mar. 2012.

DEBORD, G. A Sociedade do Espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

FLORES, N.; BEARDSMORE, H. B. Programs and structures in bilingual and multilingual education. In: WRIGHT, W. E.; BOUN, S.; GARCÍA, O. (Orgs.). The handbook of bilingual and multilingual education. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2015, p. 205-222.

FRITZEN, M. P. Reflexões sobre práticas de letramento em contexto escolar de língua minoritária. D.E.L.T.A., v. 27, n. 1, p. 63-76, 2011.

GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century: A global perspective. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009.

GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: Language, Bilingualism, and Education. London: Palgrave Macmillan, 2014.

GRIGOLETTO, M. Língua, discurso e identidade: a língua inglesa no discurso da mídia e a construção identitária de brasileiros. Filol. Lingüíst. Port., n. 9, p. 213- 227, 2007.

GROSJEAN. F. Life with two languages: an introduction to bilingualism. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 1982.

HAMERS, J.; BLANC, M. Bilinguality and Bilingualism. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

HELLER, M. The Commodification of Language. Annual Review of Anthropology, v. 3, p. 101-114, 2010.

KRAMSCH, C. Language and culture. Oxford: Oxford University Press, 1998.

KRAMSCH, C. Intercultural communication. In: CARTER, R.; NUNAN, D. (Eds.). The Cambridge guide to teaching English to speakers of other languages. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, p. 201-206.

KRAMSCH, C. Culture in foreign language teaching. Iranian Journal of Language Teaching Research, v. 1, n. 1, p. 57-78, 2013.

LIBERALI, C. F.; MEGALE, A. H. Uma Língua de Vantagem. Carta Fundamental, v. 27, p. 58 -60, abr. 2011.

LIBERALI, C. F.; MEGALE, A. H. Elite bilingual education in Brazil: an applied linguist’s perspective. Colomb. Appl. Linguist. J., v. 18, n. 2, p. 95-108, 2016.

MAHER, T. M. A Educação do Entorno para a Interculturalidade e o Plurilinguismo. In: KLEIMAN, A. B.; CAVALCANTI, M. C. (Orgs.). Linguística Aplicada – suas Faces e Interfaces. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2007a. p.255-270.

MAHER. T. M. Do casulo ao movimento: a suspensão das certezas na educação bilíngüe e intercultural. In: CAVALCANTI, M. C.; BORTONI-RICARDO, S. M. (Orgs.). Transculturalidade, linguagem e educação. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2007b. p.67-94.

MEGALE, A. H. Eu sou, eu era, não sou mais: um relato de sujeitos fal(t)antes em suas vidas entre línguas. 2012. 187 f. Dissertação (Mestrado Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, 2012.

MEGALE, A. H.; LIBERALI, C. F. Caminhos da educação bilíngue no Brasil: perspectivas da linguística aplicada. Raído, Dourados, MS, v. 10, n. 23, p. 9-24, jul./dez. 2016. Disponível em: <http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/view/6021/3170>. Acesso em: 11 jun. 2017.

MORELLO, R. Uma política pública e participativa para as línguas brasileiras: sobre a regulamentação e a implementação do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). Gragoatá, n. 32, p. 31-41, 2012.

NDHLOV, F. A decolonial critique of diaspora identity theories and the notion of superdiversity. Diaspora Studies, v. 9, n. 1, p. 28-40, 2016.

PINHEIRO, L. S. Bases conceituais para uma política linguística do português/italiano nas escolas: Caxias do Sul, RS. 2008. 106 f. Dissertação (Mestrado Letras e Cultura Regional) - Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2008.

RAJAGOPALAN, K. The Identity of “World English”. New Challenges in Language and Literature, FALE/UFMG, p. 97-107, 2009.

RIO DE JANEIRO. Deliberação CEE No 341, de 12 de novembro de 2013. Disponível em: https://www.cpede.com.br/wp-content/uploads/2018/02/delibera%C3%A7%C3%A3o-341-CEE-Estabelece-normas-para-a-oferta-de-Ensino-Bil%C3%ADngue-e-Internacional.pdf. Acesso em: 29 mar. 2018.

ROMAINE, S. Bilingualism. Oxford: Blackwell,1989.

SALGADO, A. et al. Formação de professores para a educação bilíngue: desafios e perspectivas. In: IX EDUCERE, 2009. Anais do IX Congresso Nacional de Educação. Curitiba: Editora Universitária Champagnat, 2009. v. 01, p. 8042-8051.

SANTA CATARINA. RESOLUÇÃO CEE/SC Nº 087, de 22 de novembro de 2016.

SEMECHECHEM, J. A. O Multilinguismo na Escola: práticas linguísticas em uma comunidade de imigração ucraniana no Paraná. 2016. 272 f. Tese (Doutorado Letras) - Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, 2016.

SILVA, I, R.; FAVORITO, W. Surdos na Escola – letramento e bilinguismo. Campinas, SP: MEC/CEFIEL/IEL/UNICAMP, 2009.

STORTO, A. Discursos sobre bilinguismo e educação bilíngue: a perspectiva das escolas. 2015. 120 f. Dissertação (Mestrado Linguística Aplicada) - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, 2015.

VERTOVEC, S. Superdiversity and its implications. Ethnic and racial studies, v. 30, n. 6, p. 1024-1054, nov. 2007.

WEI, L. Dimensions of Bilingualism. In: WEI, L. The Bilingualism Reader. London; New York: Routledge, 2000.

WRIGHT W. E.; BOUN S.; GARCÍA, O. Introduction: key concepts and issues in bilingual and multilingual educationa. In: WRIGHT W. E.; BOUN S.; GARCÍA, O. (Eds.). The handbook of bilingual and multilingual education. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons, 2015. p. 1-16.

Publicado

2018-12-26

Cómo citar

Megale, A. H. (2018). EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE LÍNGUAS DE PRESTÍGIO NO BRASIL: UMA ANÁLISE DOS DOCUMENTOS OFICIAIS. The ESPecialist, 39(2). https://doi.org/10.23925/2318-7115.2018v39i2a4

Número

Sección

Papers