Cogitações sobre a neutralidade e valores na Ciência
DOI:
https://doi.org/10.23925/2178-2911.2024v29p279-296Resumo
Resumo
Este ensaio busca trazer reflexões sobre algumas concepções associadas à Ciência, especialmente no que se refere a valores relacionados, principalmente, ao seu estado de neutralidade. A motivação para o desenvolvimento desse trabalho consistiu no seguinte questionamento: será que existe mesmo uma ciência que é neutra, objetiva, rigorosa, precisa, universal e positiva? A investigação desencadeada por essa desconfiança ocasionou neste estudo que envolve aspectos históricos que, por um lado, contribuíram para esta reputação de neutralidade, bem como de um método universal e um excesso de confiança, mantido e difundido até a atualidade, mas que, por outro lado, contestado a partir da evolução da ciência e sua aproximação da tecnologia e de eventos históricos. Neste âmbito, é correto afirmar que a ciência é neutra? Para auxiliar no desenvolvimento da problemática, as reflexões são potencializadas por estudos elaborados por Hugh Lacey, ao tratar de três componentes que estão impregnados nas práticas científicas: a imparcialidade, a autonomia e a neutralidade. Ao final, apresentam-se as considerações do debate direcionado para o contexto da educação científica e tecnológica, trazendo aspectos que justificam esta discussão no contexto educacional.
Palavras-chave: neutralidade na ciência, educação científica e tecnológica, valores na ciência.
Abstract
This essay seeks to reflect on some conceptions associated with Science, especially with regard to values related, mainly, to its state of neutrality. The motivation for developing this work consists of the following question: is there really a science that is neutral, objective, rigorous, precise, universal and positive? The investigation triggered by this suspicion led to this study that involves historical aspects that, on the one hand, contributed to this reputation of neutrality, as well as to a universal method and to an overconfidence, sustained and disseminated to this day, but, on the other hand, contested with the evolution of science and its approach to technology and historical events. In this context, is it correct to say that science is neutral? The studies carried out by Hugh Lacey enhanced the reflections that helped in the development of this essay's problem; they deal with three components that are embedded in scientific practices: impartiality, autonomy and neutrality. At the end of this word, the considerations of the debate directed to the context of scientific and technological education are presented, and aspects that justify this discussion in the educational context are brought.
Keywords: neutrality in science, science and technology education, values in Science.
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