Vozes poéticas na escuta da fragilidade dos pobres: contribuições para uma reflexão teológica sobre a mística em diálogo com a poesia de Violeta Parra
DOI:
https://doi.org/10.23925/2236-9937.2020v21p372-405Palavras-chave:
Teologia, mística, decolonialidadeResumo
Este artigo propõe uma análise centrada no florescimento de uma "mística de olhos abertos" na América Latina ao longo do século XX, a chamada espiritualidade da libertação. Dentre os resultados da pesquisa, estão indicados elementos da mística que se revela com o sentido de "suspiro dos oprimidos", conforme a interpretação que faz Rubem Alves da conhecida expressão de Karl Marx, tecida numa interlocução com a sociologia da religião no Brasil, como fruto de uma reflexão sobre o retorno do sagrado na sociedade contemporânea. Suspiro, entretanto, que se expressa como desejo de transformação da realidade, tendo no horizonte a libertação social. Mística como indignação diante da injustiça e como força de revolução, de empoderamento dos grupos subalternos e de mudança social. Destaca-se também a mística como canal de expressão da fragilidade humana, da capacidade de alteridade e do despertamento da dimensão lúdica. Por meio de metodologia bibliográfica, esta análise oferece elementos para o debate epistemológico no âmbito dos estudos de mística que se propõem a escutar a experiência religiosa das vozes reprimidas pelo poder colonial, tendo como recurso a correspondência de perspectivas teológicas latino-americanas, especialmente as de Gustavo Gutierrez, Maria Clara Bingemer e Rubem Alves, com a poesia de Violeta Parra.Referências
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