Uma leitura intertextual de ‘O que é amar um país’, de José Tolentino Mendonça
enraizamento, fragilidade e esperança
DOI:
https://doi.org/10.23925/2236-9937.2025.73942Palavras-chave:
José Tolentino Mendonça, Simone Weil, Enraizamento, Fragilidade, EsperançaResumo
O Cardeal José Tolentino Mendonça realiza uma leitura poética e teológica singular ao destacar, entre as obras de Luís de Camões e Herberto Helder, a palavra raiz como núcleo de reflexão simbólica. Ao fazê-lo, o autor propõe uma inversão da lógica tradicional associada a essa imagem, que costuma simbolizar força, estabilidade e permanência. Em seu discurso, O que é amar um país, sobretudo no contexto da pandemia de COVID-19, em 2020, Tolentino sugere que a raiz também pode representar vulnerabilidade e fragilidade, aspectos constitutivos da condição humana. Nesse diálogo intertextual, ele recorre ao texto O enraizamento, da filósofa Simone Weil, escrito durante a Segunda Guerra Mundial. A partir dessa interlocução, Tolentino reflete sobre o enraizamento como metáfora existencial e espiritual, evidenciando a tensão entre a necessidade de pertencimento e o reconhecimento da precariedade humana. Assim, este estudo busca analisar como os conceitos de fragilidade, enraizamento e esperança se articulam no pensamento de Tolentino, constituindo-se como eixos hermenêuticos para compreender a identidade humana em tempos de crise. Pretende-se demonstrar que, ao deslocar o sentido convencional de raiz, o autor oferece uma leitura profundamente ética e antropológica da experiência humana, em que a vulnerabilidade deixa de ser vista como limite para tornar-se uma possibilidade de abertura, solidariedade e reconstrução comunitária.
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