A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A PRODUÇÃO BIOPOLÍTICA DA EDUCAÇÃO COMO FORMAÇÃO DE “CAPITAL HUMANO”
DOI:
https://doi.org/10.23925/1809-3876.2017v15i2p481-503Palavras-chave:
Currículo. Políticas curriculares. Biopolítica. Capital humano. Rostidade.Resumo
Este artigo debate a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tomando, como ponto de partida, os enunciados discursivos expressos no site oficial do Movimento pela Base Nacional Comum Curricular. Trata-se, portanto, de uma pesquisa bibliográfico-documental. Problematiza como a BNCC, ao apresentar um conjunto padrão de conhecimentos e habilidades essenciais que cada estudante brasileiro deve aprender a cada etapa da Educação Básica, se afirma como um dispositivo de poder que busca controlar e/ou regular a vida, no sentido de estabelecer quais conhecimentos e habilidades são essenciais, em termos de competências individuais, para fundamentar as avaliações em larga escala, os processos de aprendizagem recognitivos, a formação do homo economicus neoliberal, ignorando os múltiplos contextos escolares não definíveis a priori. Conclui sobre a necessidade de buscar, no âmago da petrificação da vida, a sua afirmação, via um movimento de composição no plano de imanência do currículo que se contraponha ao biopoder, quer dizer, ao poder sobre a vida, pois a biopotência conecta-se ao desejo coletivo de conexão com os múltiplos contextos e cotidianos escolares, assim como com a ideia de currículo como corpo grupal que apresente consistência num plano de composição de um comum plural. Nesse sentido, a comunidade escolar necessita minimizar os fatores que induzem à passividade ou à potência mínima grupal e estabelecer conexões e/ou modos de associação que possibilitem, na grupalidade, o compartilhamento de ideias e experiências, agenciando a potência máxima de realização curricular.
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