A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E A PRODUÇÃO BIOPOLÍTICA DA EDUCAÇÃO COMO FORMAÇÃO DE “CAPITAL HUMANO”

Autores

  • Janete Magalhães Carvalho Universidade Federal do Espírito Santo
  • Sandra Kretli Silva Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
  • Tânia Mara Zanotti Guerra Frizzera Delboni Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

DOI:

https://doi.org/10.23925/1809-3876.2017v15i2p481-503

Palavras-chave:

Currículo. Políticas curriculares. Biopolítica. Capital humano. Rostidade.

Resumo

Este artigo debate a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tomando, como ponto de partida, os enunciados discursivos expressos no site oficial do Movimento pela Base Nacional Comum Curricular. Trata-se, portanto, de uma pesquisa bibliográfico-documental. Problematiza como a BNCC, ao apresentar um conjunto padrão de conhecimentos e habilidades essenciais que cada estudante brasileiro deve aprender a cada etapa da Educação Básica, se afirma como um dispositivo de poder que busca controlar e/ou regular a vida, no sentido de estabelecer quais conhecimentos e habilidades são essenciais, em termos de competências individuais, para fundamentar as avaliações em larga escala, os processos de aprendizagem recognitivos, a formação do homo economicus neoliberal, ignorando os múltiplos contextos escolares não definíveis a priori. Conclui sobre a necessidade de buscar, no âmago da petrificação da vida, a sua afirmação, via um movimento de composição no plano de imanência do currículo que se contraponha ao biopoder, quer dizer, ao poder sobre a vida, pois a biopotência conecta-se ao desejo coletivo de conexão com os múltiplos contextos e cotidianos escolares, assim como com a ideia de currículo como corpo grupal que apresente consistência num plano de composição de um comum plural. Nesse sentido, a comunidade escolar necessita minimizar os fatores que induzem à passividade ou à potência mínima grupal e estabelecer conexões e/ou modos de associação que possibilitem, na grupalidade, o compartilhamento de ideias e experiências, agenciando a potência máxima de realização curricular.

Biografia do Autor

Janete Magalhães Carvalho, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Espírito Santo (PPGE-UFES). Coordenadora do Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq: Currículos, culturas,  linguagens e formação de professores. Pesquisadora CNPq (Bolsa PQ-AD). 

Sandra Kretli Silva, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Doutora em Educação. Professora do Departamento de Teorias de Ensino e Práticas Educacionais da Universidade Federal do Espírito Santo (DTEPE – UFES). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq: Currículos, culturas, linguagens e formação de professores.

Tânia Mara Zanotti Guerra Frizzera Delboni, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Doutora em Educação. Professora do Departamento de Teorias de Ensino e Práticas Educacionais da Universidade Federal do Espírito Santo (DTEPE – UFES). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq: Currículos, culturas, linguagens e formação de professores. 

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Publicado

2017-06-30

Edição

Seção

Artigos